Cabe à ONU tomar para si a tarefa urgente e imediata para a criação do Estado Palestino, independente e reconhecido pela imensa maioria dos países e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas

Virgílio Guimarães

Não é hora de discutir responsabilidades, direitos históricos e, muito menos, as complexas políticas internas de cada uma das partes interessadas. São temas importantes, mas chegou o momento de serem deixadas de lado em favor do objetivo central de extinguir imediatamente o morticínio e abrir caminho para uma paz duradoura. Creio que a solução possível, paradoxalmente, teria que ser de origem externa aos envolvidos, conduzida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a ser apoiada por concerto de outras nações.

Há que se ter coragem de iniciativa, a de fixar fronteiras claras ponto a ponto para, após, se tornarem hermeticamente fechadas, resguardando cada lado. Sua definição seria a partir de critérios dentro do realismo possível, as áreas definidas como palestinas no tratado israelo-egípcio de 1982, acrescentando-se aí a indispensável divisão de Jerusalém entre as duas partes, preservada uma minúscula área multirreligiosa a permanecer sob controle da ONU. 

Isso feito, a tarefa passa a ser a imposição de forças internacionais de paz, poderosas, plurais e respeitosas, para assim garantir a observância de tais fronteiras. Por fim, para assegurar a estabilidade de longo prazo, seria indispensável a construção de túnel ligando a Cisjordânia à Faixa de Gaza, sob controle da ONU, capaz de conter trânsito rodoferroviário além de gasoduto, linha de transmissão energética e cabos de comunicação, algo não mais gigantesco que o conhecido eurotunel. 

O saneamento, incluindo estação de aproveitamento de águas marinhas, na Faixa de Gaza, igualmente seria objeto de recursos internacionais, para viabilizar o contato zero das áreas palestinas e israelitas. Tudo isso, é claro, encimado pela imediata criação do Estado Palestino, independente e reconhecido formalmente por imensa maioria de países, entre eles todos os membros do Conselho de Segurança da ONU, a quem caberia a iniciativa do projeto, quem sabe ainda na gestão brasileira. 

Pergunta-se: haveria legitimidade para tais medidas e para tais atores? Indiscutivelmente, sim. Afinal, tudo começou por decisão internacional, tanto a criação do Estado de Israel quanto a não demarcação de Estado Palestino. Portanto, mais que em qualquer outro conflito, o caso pertence à ONU, a quem caberia a completa responsabilidade por tomar iniciativas firmes como a aqui proposta. Ou a ONU se torna resolutiva agora ou passa recibo de seu próprio atestado de óbito. •

* Coordenador do Centro de Altos Estudos da Fundação Perseu Abramo

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