Diante da CPI dos Ataques à Democracia, Delgatti mostra participação direta de Bolsonaro na tentativa de golpe em 8 de janeiro. Ele conta que o presidente pediu pessoalmente que cometesse crimes para atacar o sistema eleitoral e a democracia, prometendo ainda imunidade caso fosse preso

Brasília (DF) 17/08/2023 Depoimento do Hacker, Walter Delgatti Neto, na CPMI do golpe. Foto Lula Marques/ Agência Brasil

Que Jair Bolsonaro estava envolvido diretamente na tentativa de golpe ocorrida em 8 de janeiro, quando radicais de extrema-direita atacaram as sedes dos três poderes em Brasília, ninguém tinha dúvidas. Mas, na quinta-feira, 17, um depoimento explosivo, concedido por Walter Delgatti à CPI dos Ataques à Democracia, revela que o ex-presidente atuou decisivamente para a tentativa de um golpe de Estado no Brasil.

Em seu depoimento, Delgatti disse que Bolsonaro lhe pediu diretamente para assumir a autoria de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). E mais. Recebeu da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) o pedido para que tentasse fraudar o sistema de votação. Era um desejo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ainda declarou que o marqueteiro de Bolsonaro, Duda Lima, em 9 de agosto do ano passado, e o próprio Bolsonaro, no dia seguinte, no Palácio da Alvorada, lhe pediram para participar de uma fake news contra as eleições. A ideia era gravar um vídeo no qual ele adulteraria uma urna eletrônica com um código falso para convencer as pessoas de que aquela era uma prova da vulnerabilidade das urnas.

O vídeo seria exibido no 7 de Setembro do ano passado — quando Bolsonaro promoveu ataques ao Tribunal Superior Eleitoral — e só não foi concretizado porque a imprensa descobriu e noticiou o encontro de Delgatti com Bolsonaro. O ex-presidente teria ordenado que o hacker fosse recebido pelo então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e por técnicos do ministério para ajudar na elaboração de um relatório que deveria contestar a segurança das urnas eletrônicas.

Segundo Delgatti, Bolsonaro lhe deu permissão expressa para cometer ilegalidades e prometeu livrá-lo por meio de um indulto presidencial caso fosse preso. Na conversa por telefone, Bolsonaro chegou a dizer, segundo Delgatti: “Se caso alguém te prender, eu mando prender o juiz”. Ele confessou que invadiu a intranet do Conselho Nacional de Justiça e de outros órgãos do Judiciário e inseriu um falso mandato de prisão contra Alexandre Moraes, numa tentativa de convencer os eleitores de que aquela era uma prova da vulnerabilidade do sistema eleitoral.

Diante de tantas revelações escandalosas, integrantes da CPI estão convencidos de que Bolsonaro deve ser preso por ter participado de uma tentativa de golpe no Brasil. “Nós escapulimos de um golpe de Estado por muito pouco”, afirmou o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), antes de chamar a atenção para os efeitos nefastos que a divulgação da fake news do hacker com uma urna eletrônica poderia causar.

“Imagina a convulsão social que isso daria”, disse. “Eu não duvido, diante de tudo que está acontecendo agora, as contas do Mauro Cid, os telefones do Wasseff confiscados ontem pela Polícia Federal, as prisões de hoje por causa da Festa da Selma, eu realmente acho que a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro está próxima”. O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), acrescentou que Bolsonaro não deve mais ser visto apenas como mentor intelectual, mas como coautor da tentativa de golpe.

“O ex-presidente, eu digo a vocês, é coautor desses crimes: tentar com emprego de violência ou grave ameaça abolir o Estado democrático, tentar depor por meio de violência ou grave ameaça governo legitimamente constituído. Com esse depoimento e tudo que já foi coletado, as provas são contundentes”, afirmou Contarato, acrescentando esperar a prisão imediata do ex-presidente.

Para os parlamentares, o depoimento do hacker confirma que o atentado de 8 de Janeiro foi resultado de um longo processo golpista pensado e articulado por Bolsonaro e seus vários cúmplices. O elemento central desse processo era convencer parte do eleitorado de que uma eventual derrota do ex-presidente seria fruto de fraude eleitoral.

“(Sempre dissemos que) o que houve foi uma tentativa de golpe de Estado, inclusive com atos preparatórios. O desenrolar da investigação confirma a tese da tentativa de golpe. Quanto mais a gente investiga, mais a gente percebe que essa tentativa de golpe aconteceu nas mais variadas esferas”, ressaltou o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA).

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) lembrou que Bolsonaro realizou um ataque sistemático às urnas como forma de levantar suspeitas sobre as eleições. “O que está sendo revelado aqui mostra, com muita clareza, tudo que foi programado”, salientou, logo após pedir proteção à vida de Walter Delgatti.

Carvalho alertou ainda que a extrema direita dá sinais de que não desistiu dos ataques à democracia. “É só olhar o que o Trump está fazendo nos Estados Unidos, que continua questionando a democracia e as instituições. Esse foi um ataque e precisamos ficar atentos porque outros virão”. •

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