Defensora dos quilombolas, Ialorixá Mãe Bernadete é assassinada na Bahia. Terreiro onde ela estava foi invadido por criminosos, na região de Salvador. Filho também foi assassinado há seis anos

A Ialorixá Mãe Bernadete, 72 anos, liderança quilombola baiana e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), foi assassinada a tiros dentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, na quinta-feira, 17. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia, dois homens, usando capacetes, entraram no terreiro e a mataram.

Segundo o filho de Bernadete, Wellington dos Santos, a mãe foi assassinada com tiros no rosto. “Minha família está sendo perseguida, meu irmão foi morto da mesma forma. Não vamos parar, quilombo sempre será resistência”, disse.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), disse que recebeu “com pesar e indignação” a notícia da morte de Mãe Bernadete, a quem chamou de “amiga e grande liderança quilombola da Bahia”.  Era foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da cidade de Simões Filho, durante a gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD), entre 2009 e 2016.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, denunciou o crime. “O racismo religioso mata e produz violências reais”, disse. “O ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana não é pontual. O racismo religioso é mais uma faceta da conformação racista que estrutura o país e precisa ser combatido por meio de políticas públicas”. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Sílvio Silvio Almeida, enviou uma equipe.

Bernadete era mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo. Ele era líder da comunidade Pitanga dos Palmares e foi assassinado há seis anos. “Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização”, diz o Conaq.

O PT soltou uma nota pública lamentando a morte e exigindo justiça. A secretária nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, afirmou que o crime é estarrecedor e choca pela crueldade. “A perda da Ialorixá Bernadete Pacífico é mais um crime contra uma mulher negra que era liderança em sua comunidade”, disse.

Em julho, em encontro com a então presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, Mãe Bernadete denunciou a violência contra quilombolas, que havia vitimado um filho da Ialorixá. “Para a senhora ter uma ideia, até hoje não sei o resultado do assassinato de meu filho. Abalou todo mundo. Foi no mesmo período em que aconteceu a morte de Marielle (Franco). Inclusive, eu fui em diversos encontros com a mãe de Marielle. É injusto. Recentemente perdi outro amigo e uma amiga em um quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região”, disse.

O quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Mãe Bernadete, produz e vende farinha para vatapá, além de frutas e verduras como abacaxi, banana da terra, inhame e maracujá. Cerca de 290 famílias vivem no local de 854 hectares. O quilombo foi certificado em 2004, mas ainda não teve o processo de titulação concluído. •

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