Partidos pedem ao Senado para apurar plano do presidente do Banco Central de colocar as reservas de US$ 380 bilhões sob gestão privada. TCU irá investigar proposta de terceirizar ativos feita em entrevista à gestora americana BlackRock. Ato de traição nacional

Se depender do bolsonarismo, o país abre mão de fazer a gestão de suas reservas para colocá-las sob o controle do capital internacional. Mas o plano de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, de entregar ativos brasileiros ao capital estrangeiro pode sair pela culatra. Um grupo de nove partidos pediu ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para que o parlamento apure a conduta de Neto à frente do BC. O documento foi assinado por representantes das legendas PT, PCdoB, PSOL, PV, PDT, Rede, PSD, MDB e PSB.

Em outra frente, o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue a iniciativa de Bob Neto de terceirizar a administração das reservas internacionais do país à gestora de fundos BlackRock. Na terça-feira, o objeto de investigação do tribunal foi também anexado para ser analisado pelo Senado. As reservas internacionais, essenciais para a soberania, estão estimadas em US$ 380 bilhões.

Os partidos denunciam: “no que toca ao assunto de gestão da política monetária brasileira, surge o movimento do Banco Central do Brasil, na pessoa de seu presidente, de planejar a terceirização, para a iniciativa privada, da atividade de gestão de ativos internacionais estratégicos do Banco Central do Brasil”.

A petição apoia a justificativa do subprocurador-geral para o pedido feito ao TCU, de que “terceirizar a administração de reservas de ativos internacionais do Brasil é conduta inadmissível”. Em seu pedido de investigação, Furtado informou ainda que entrou com pedido cautelar para que o Banco Central se abstenha de “realizar qualquer tratativa sobre a possibilidade de terceirizar a gestão das reservas financeiras internacionais brasileiras”.

De acordo com os parlamentares, a conduta de Neto fere princípios basilares que norteiam a administração pública, cujos agentes devem seguir preceitos de “legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Na avaliação de partidos, a iniciativa de Roberto Campos Neto é crime de traição nacional.

Para o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), a incorporação da investigação iniciada pelo TCU à petição só fortalece os argumentos dos parlamentares para que o Senado apure a atuação desastrosa de Campos Neto à frente do BC. “O aditamento feito na petição, construído com nossos advogados, é muito importante”, declarou.

“Veja, Campos Neto deu uma entrevista ao BlackRock, um fundo abutre, a maior gestora de ativos do mundo, que administra algo em torno de US$ 10 trilhões, falando em terceirização da gestão das nossas reservas internacionais. Isso é criminoso”, condena o parlamentar. As reservas foram construídas nos governos Lula e Dilma e têm papel estratégico para a estabilidade econômica.

“Aqui não tem crise externa, cambial que quebre o país. Isso é estratégico, como é que alguém fala em privatizar a gestão disso?”, indaga o deputado. “É escandaloso. Quem esse cara pensa que é? O presidente da República?”

Lindbergh avalia que Bob Neto perdeu as condições técnicas de continuar comandando o BC. E chama a atenção para o papel do Senado em um eventual afastamento dele da instituição. “É o Senado que tem de fazer a cobrança, em relação à política monetária, ao presidente do Banco Central. O Senado também pode afastá-lo”, justifica.

“Eu entrei com um pedido junto ao Conselho Monetário Nacional (CMN) para que avalie a exoneração de Roberto Campos Neto por desempenho insuficiente”, destacou. “É um absurdo termos hoje a maior taxa de juros do mundo, a taxa de juros reais está em 10%. Porque a taxa Selic é 13,75%, mas a inflação, no acumulado de 12 meses, está em 3,16%”.

“O que Roberto Campos Neto está fazendo é aumentar a taxa de juros mês a mês”, resumiu. “É escandaloso o que ele está fazendo. Ele teve desempenho insuficiente nesse momento e também lá atrás, por um motivo oposto: ele deixou, por muito tempo, a taxa de juros reais negativa no Brasil”, disse.

“A Selic era 2%. Esse é o comportamento de Roberto Campos Neto: ele tentou auxiliar muito o Bolsonaro e, quando veio a perspectiva de vitória do presidente Lula, ele apertou a política monetária”, lamenta.

O deputado também é um dos responsáveis pela divulgação de um abaixo-assinado pedindo a saída imediata de Campos Neto do Banco Central. A iniciativa já conta com quase 54 mil assinaturas. Para assinar, acesse o documento aqui. •

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