A lenda de Tony Bennett
A última grande voz da América, que encantou o mundo durante sete décadas, se calou no último dia 21. O músico tinha 96 anos e foi elogiado por Frank Sinatra como “o melhor cantor do mundo”
Ele foi o último dos grandes intérpretes do século 20 que continuava encantando multidões e conquistando gerações ao longo de 70 anos de carreira. Era o preferido de Frank Sinatra. Um cantor cuja clareza melódica, fraseado influenciado pelo jazz, e forte personalidade ajudou espalhar o cancioneiro americano pelo mundo.
Tony Bennett morreu na sexta-feira, 21, em Nova York. Tinha 96 anos. Ele lutava contra a doença de Alzheimer desde 2016. Sua última apresentação pública foi em agosto de 2021, quando apareceu com Lady Gaga no Radio City Music Hall no show intitulado “One Last Time”.
A carreira de Tony Bennett foi notável não apenas por sua longevidade, mas também por sua consistência. Em centenas de shows e datas de clubes e mais de 150 gravações, ele se dedicou a preservar a música popular americana, escrita por Cole Porter, os irmãos George e Ira Gershwin, Duke Ellington, Richard Rodgers e Oscar Hammerstein e outros. Era um fã da música brasileira e gravou clássicos da bossa nova de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Ele começou a carreira como um cantor jazzístico na década de 1950 e atingiu o auge do estrelato em 1962 com o lançamento de sua música de assinatura, “I Left My Heart in San Francisco”. Foi uma das grandes vozes da América no século 20, ao lado de Louis Armstrong, Bing Crosby, Judy Garland, Billie Holiday e Frank Sinatra. “Eu queria cantar as grandes canções, músicas que sentia que realmente importavam para as pessoas”, disse em “The Good Life” (1998), uma autobiografia escrita com Will Friedwald.
Um democrata liberal ao longo da vida, Bennett participou da marcha dos direitos civis de Selma a Montgomery em 1965 e, junto com Harry Belafonte, Sammy Davis Jr. e outros, se apresentou no comício Stars for Freedom na cidade de St. Campus Jude nos arredores de Montgomery em 24 de março, na noite anterior de Martin Luther King Jr. fazer o discurso que veio a ser conhecido como “Quanto tempo?”. Ao final da marcha, Viola Liuzzo, voluntária de Michigan, levou Bennett ao aeroporto. Ela foi assassinada naquele mesmo dia por membros da Ku Klux Klan.
Bennett também se apresentou para Nelson Mandela, então presidente da África do Sul, durante sua visita de estado à Inglaterra em 1996. E cantou na Casa Branca para John F. Kennedy e Bill Clinton, e no Palácio de Buckingham no jubileu do 50º aniversário da Rainha Elizabeth II.
O cantor ganhou seus dois primeiros Grammy, por “San Francisco”, em 1963, e o último, pelo álbum “Love for Sale”, com Lady Gaga, em 2022. Ao todo, recebeu 20 Grammy, incluindo, em 2001, um prêmio pelo conjunto da obra. Ele vendeu mais de 60 milhões de discos ao longo da vida.
Frank Sinatra, a quem contou como mentor e amigo, considerava-o inigualável e o elogiou publicamente. “Pelo meu dinheiro, Tony Bennett é o melhor cantor do ramo”, disse à revista Life em 1965. “Ele me excita quando eu o observo. Ele me move. Ele é o cantor que entende o que o compositor tem em mente, e provavelmente um pouco mais.” •