Atriz e cantora inglesa, sinônimo de glamour e sucesso na louca Paris dos anos 60, morre aos 76 anos. Uma de suas canções clássicas foi proibida no Brasil e dezenas de outros países em 1969

Adeus, Jane Birkin

A voz feminina mais importante da música francesa nos anos 60 e 70 — que rodou o mundo e encantou gerações — não nasceu na França. Ou mesmo nos arredores da Paris de Charles Aznavour, Edith Piaf, Jacques Brel ou George Brassens. Jane Birkin, que embalou festas, amantes e farras ao longo de duas décadas, era inglesa. Nasceu em Londres. Mas foi um ícone da cultura pop francesa.

Se você foi adolescente ou cresceu nos anos 70, não passou incólume pelo sucesso ‘Je t’aime… moi non plus’, canção de Serge Gainsbourg, literalmente a transa de um casal apaixonado, entre sussurros e lamentos de tesão, com letra incrivelmente erótica: “Oh mon amour/ L’amour physique est sans issue/ Je vais je vais et je viens/ Entre tes reins/ Je vais et je viens”. Na canção, ela simula um orgasmo.

Foi um escândalo. Mas a música de Serge e Jane virou um sucesso global e encantou milhões, mesmo banida nas rádios da Espanha, Islândia, Itália, Polônia, Portugal, Reino Unido, Suécia e Iugoslávia. No Brasil da ditadura, a audição do compacto se dava em casa de amigos. Um ato revolucionário.

‘Je t’aime’ foi proibida em todo o território nacional pelo coronel Aloisio Mulethaler, chefe da Censura Federal. Na época, o militar mandou apreender todas as cópias da canção nas lojas de discos e responsabilizou a Companhia Brasileira de Discos por não ter providenciado a censura da letra.

Pois esta voz libertária, que povoou o imaginário da juventude na ressaca do verão do amor, morreu no último domingo. Jane tinha 76 anos. Ela vivia em Paris. Sua morte foi lamentada na França e em vários cantos do mundo. O presidente francês, Emmanuel Macron, prestou homenagem a Birkin. “Ela incorporou a liberdade e cantou as palavras mais bonitas da nossa língua”, escreveu.

Se não bastasse a carreira como cantora, Birkin foi uma atriz de enorme carisma e talento. Ela ganhou a fama depois de aparecer no filme ‘Blow-Up’, de Michelangelo Antonioni, em 1966, que capturou a eclosão da cena musical britânica — com direito a um show do grupo Yardbirds, com Jimmy Page e Jeff Beck, lado a lado num pub inglês —, baseado no famoso conto do escritor argentino Júlio Cortázar, “As babas do diabo”.

Em 1968, aos 22 anos, Jane estrelou a comédia romântica ‘Slogan’ ao lado de Gainsbourg, por quem se apaixonaria e formaria um dos casais mais famosos do mundo pelos próximos 13 anos. Ela teve com Serge a filha Charlotte Gainsbourg, também atriz e cantora de sucesso.

Embora o casal tenha se separado em 1980, o compositor e cantor escreveu para ela um dos seus álbuns mais prestigiados três anos depois: ‘Baby Alone in Babylone’, que rendeu a ela um disco de ouro, algo que voltou a conseguir com ‘Arabesque’, em 2002. •