A economia do desejo e a economia da necessidade
Para entender quem manda, quem acha que manda e os paus mandados na política e na economia do Brasil. Vale lembrar a frase atribuída a Winston Churchill: “Não existe a opinião pública, o que existe é opinião publicada”
Sibá Machado
Como explicar a luta de classes no século 21 para nossa juventude que foi ‘engolida’ pelas baboseiras da internet? Aliás, não apenas a juventude, mas toda a população: de mamando a caducando. No livro “Os engenheiros do caos”, o autor Giuliano Da Empoli descreve com muita firmeza o uso da tecnologia da informação em massa a estimular as teorias da conspiração, fake news e uso de algoritmos para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. O que vale é o totalmente incorreto na política.
Políticos da aberração, da idiotização, baderna, violência, do mais falso patriotismo, apologia à morte e da corrupção extrema. Esta tecnologia foi aplicada com sucesso na Hungria, Itália, Estados Unidos e, é claro… no nosso Brasil.
Diante disso, vale a pergunta: a quem interessa tal desordem? Quem ganha e quem perde com tão brutal violência? Aqui cabe uma análise com base na teoria da luta de classes. Vejamos, você já viu R$ 1 bilhão? Acredito que não.
Um bilhão de reais se escreve com o número 1 seguido de nove zeros. Assim, vamos chamá-lo de um número de 10 dígitos. Com 10 dígitos, sua fortuna está entre R$ 1 e 9 bilhões.
Você conhece alguém que tenha R$ 1 bilhão na conta? Você sabe onde mora essa pessoa bilionária? Você já viu um bilionário no ônibus? Na padaria do bairro? Na fila do SUS? Seguramente, não!
Os bilionários não vivem assim.
Um bilionário com 10 dígitos na conta ninguém vê, não se sabe nada sobre eles. Mas, ainda moram no Brasil. Agora, vamos analisar sobre os bilionários de 11 dígitos na conta. Com 11 dígitos, significa que tal bilionário possui uma fortuna entre 10 a 99 bilhões de reais. Este tipo de bilionário nem sequer mora no Brasil.
E o que dizer do bilionário de 12 dígitos? São bilionários cuja fortuna esteja acima de R$ 100 bilhões. Este tipo de bilionário não existe no Brasil.
O cara que mais tem bilhões no Brasil está na faixa dos 11 dígitos e mora nos EUA. A turma dos 10, 11 e 12 dígitos formam a classe dominante, a elite, a burguesia. São os donos dos meios de produção. São capitalistas, fascistas e sem pátria, odeiam os negros, são misóginos, fazem guerras e todo tipo de mal.
Mas, abaixo dessa turma, vem o pessoal dos sete dígitos. São os milionários. Gente que tem milhões na conta. Eles formam a tal classe média alta. Essa turma é quem se apresenta para a disputa política. Toma as dores da turma do bilhão como se fossem suas. São a correia de transmissão da dominação.
Essa turma é muito bem paga, vive muito bem. Alguns têm salários de 5 milhões de reais por mês, o filho estuda nos EUA e o hospital que frequentam é o Albert Einstein.
Porém, essa gente não é dona dos meios de produção. Não são da alta classe burguesa. São apenas empregados da classe dos 11 dígitos. Contudo, na política, fazem o serviço sujo da elite. Racistas, escravocratas e adoradores do império ianque.
Depois, temos o pessoal dos cinco dígitos. Este pessoal tem salário/renda acima dos R$ 10 mil, abaixo do milhão. Esta é a classe média baixa. Tira férias, o filho estuda numa escola particular, estuda inglês, música e o prepara para ser médico ou fazer carreira no Judiciário. E, é claro, disputar eleições, assumir cargos no Congresso e nos governos.
Na política, este pessoal foi o principal alvo da tecnologia explicada no livro “Os engenheiros do caos”. Médicos dizendo que vacina não presta, cientista dizendo que a Terra é plana, pastor mandando seus fiéis fazer arminha no culto, professor universitário querendo fechar a universidade, gente simples pedindo ditadura… Viram? Isto foi o locus da aplicação da tecnologia do caos.
Abaixo desta categoria temos o pessoal dos quatro dígitos. Esta categoria mora em geral muito próximo à periferia. Problemas de toda ordem: fila do SUS, ônibus lotado, escola com poucas condições, insalubridade, insegurança, assiste em geral o noticiário policialesco, etc. Esta categoria também foi duramente atacada pela tecnologia do caos nos moldes da anterior. Foi aqui que o Lula começou a vencer o bolsonarismo.
Por fim, chegamos ao pessoal dos três dígitos. Este é o povão! Somam 120 milhões de brasileiros. Precisam de tudo: renda mínima/bolsa família, SUS, escola pública, transporte público, etc. Aqui o Lula venceu o Bolsonaro.
Quando o povo dos três, quatro e cinco dígitos vê notícias sobre corrupção, fica indignado. Toda a corrupção exposta na imprensa, diz respeito a pessoas que estão nos salários de três, quatro, cinco e seis dígitos. Jamais se assistem notícias de corrupção na classe dos dez e onze dígitos. Por quê? Por que a mídia é deles.
E como se dá a corrupção na classe dos 10 e 11 dígitos? Temos cinco situações:
1) Taxa de juros/Selic
Como a maioria do pessoal dos 10 e 11 dígitos são donos dos bancos, eles roubam o orçamento geral do Brasil da seguinte forma: tornaram o Banco Central “independente”. Daí os banqueiros nomeiam o presidente do Banco Central que é pago para manter a taxa de juros elevadíssima. Hoje está no patamar anual de 13,75%. Mesmo contra a vontade do presidente Lula, que nada poderá fazer para derrubar esta imoralidade. Vale lembrar que, para cada 1% desta taxa, são R$ 50 bilhões tirados do orçamento e transferido para estes banqueiros.
2) Sonegação Fiscal
O povo dos três, quatro e cinco dígitos não conseguem sonegar imposto. Porém, o pessoal do 10 e 11 dígitos têm excelentes advogados e contadores que fazem isso muito bem. O Ministério da Fazenda desconfia que este pessoal tenha sonegado R$ 2 trilhões escondidos em ‘paraísos fiscais’.
3) Privatização
A turma dos 10 e 11 dígitos é muito malandra. Eles botam a imprensa para difamar empresas estatais até o povo simples acreditar que a vida dele só vai melhorar quando ‘vender’ a dita empresa. É o caso da Vale, que R$ valia 50 bilhões, e o governo de Fernando Henrique Cardoso ‘vendeu’ por míseros R$ 3 bilhões. E o que dizer do Bolsonaro que entregou a Eletrobrás que valia R$ 450 bilhões de reais por R$ 97 bilhões?
4) Teto de gastos
A turma dos 10 dígitos manda a imprensa fazer uma lavagem cerebral na cabeça do pessoal dos dígitos inferiores para obrigar o governo a cortar o dinheiro da saúde, educação, Bolsa Família, salário mínimo e etc. Dizendo que é este o motivo do atraso da economia do Brasil. Não faltam ‘economistas’ (de merda) para fazer ‘brilhantes’ análises que atendam a esses senhores.
5) Fraude fiscal
A mais recente notícia de escândalo envolvendo alguém dos 10 dígitos foi a fraude na contabilidade das Lojas Americanas. O tal Lehman, todo poderoso dono da AmBev e dono das Lojas Americanas, fraudou a contabilidade desta empresa em R$ 40 bilhões de reais. e ninguém viu a polícia o algemando.
A turma dos três dígitos no orçamento e a turma dos 10 e 11 dígitos no imposto de renda. Para teorizar este pensamento, sugiro a leitura do livro “Economia do desejo: a farsa da tese neoliberal”, de Eduardo Moreira. De forma simples e esclarecedora ele desnuda a narrativa da turma dos 10 dígitos.
Em resumo, a “Economia do desejo” explica que, o capitalismo vivido e imposto pela turma dos dez dígitos consiste em impor a economia a saciar desejos. Porém, desejo é um sentimento humano insaciável. Quanto mais eu tenho, mais eu quero.
Em contrapartida, Lula nos oferece a economia da necessidade! Este sentimento é saciável. Desta forma, Lula estabelece suas políticas para atender as necessidades básicas do povo. Aí vem a turma dos sete e 10 dígitos falando os diabos contra o Lula dizendo que isto é ‘gasto’ e que irá arruinar a economia.
Segundo Winston Churchill, “não existe a opinião pública, o que existe é a opinião publicada”. A imprensa (grande), que é dominada pelo pessoal dos 10 dígitos e seus lacaios, faz o serviço sujo da contra-informação, a ponto de fazer um trabalhador terceirizado de Uber aplaudir o ‘teto de gastos’ e a odiar o Bolsa Família, ter sentimentos racistas, bater continência para a bandeira dos EUA e fazer arminha na igreja.
A cenoura como ponto futuro. A turma dos 10 dígitos faz lavagem cerebral na cabeça dos jovens dos três dígitos mandando pagar salário de milhões de reais (ou dólares) para os Neymar da vida como prova que se você está nos três dígitos é por pura burrice sua. E ainda tem a mega sena que paga milhões de reais para os ‘sortudos’. Estes, ao receber o prêmio, passam a pensar e agir como se fosse alguém dos dez dígitos.
A turma dos dez dígitos não se candidata ao Legislativo ou Executivo. Não põe seus filhos no Judiciário. Isso é trabalho para as turmas dos três, quatro, cinco e seis dígitos. Eles fazem tudo que os caras dos 10 dígitos mandam. A turma dos 10 dígitos se sente os donos não apenas dos meios de produção, mas também do Estado Brasileiro.
Este é o cenário básico da luta de classes no Brasil. A burguesia (de merda) nacional, continua como sempre foi: um pitbull para o povo e uma tchutchuquinha para a burguesia ianque.
Basta uma cara feia de um banqueiro norteamericano para o burguês brasileiro se mijar nas calças. Assim foi o (des) governo do miliciano e seu capataz Paulo Guedes, que roubou entre outras coisas um importante pedaço do Banco do Brasil e da Petrobrás. •
Geógrafo, é ex-deputado federal pelo PT do Acre.