Nobel: Selic atual é “pena de morte”
Em seminário promovido pelo BNDES, Joseph Stiglitz critica a política monetária do BC: “Vai matar qualquer economia”, alerta. Presidente da Fiesp reforça: “no Brasil, juros são pornográficos”
A mídia fez pouco alarde. Mas o diagnóstico do prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, ex-assessor econômico de Bill Clinton, à política monetária administrada pelo economista Roberto Campos Neto no Banco Central é contundente. Ele avalia que a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, como definiu o Banco Central na última quarta-feira, 22, é contraproducente e pode se tornar um problema grave para a economia brasileira.
A política de austericídio monetário foi alvo de duras críticas de Stiglitz, que tratou do assunto no seminário “Estratégias do Desenvolvimento Sustentável para o Século 21”, promovido pelo BNDES, no Rio de Janeiro, na segunda-feira. “A taxa de juros de vocês é de fato chocante”, disse. Presente ao evento, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, foi incisivo. Ele classificou os juros praticados no país como “pornográficos”.
Stiglitz comparou os efeitos dos juros no Brasil a uma pena capital. “É o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte”, declarou. “E parte da razão disso é que vocês têm bancos estatais, como o BNDES, oferecendo fundos a empresas produtivas para investimentos de longo prazo com juros menores”, elogiou.
Para o economista, que falou sobre estratégias para o desenvolvimento sustentável no âmbito das políticas fiscal e monetária, o país pena com taxas de crescimento baixas nas últimas décadas por conta dos juros. “É claro que juros altos afastam investimento e reduzem produtividade”, disse o economista. “O país é muito dependente de commodities e precisa de transição para uma economia industrial verde”.
Segundo Stiglitz, já ficou demonstrado que o monopólio do mercado eleva os riscos e a desconfiança junto com a inflação. “Um Banco Central independente e com mandato só para inflação não é o melhor arranjo para o bem-estar do país como um todo”, alertou.
O empresário Josué Gomes da Silva considera um equívoco a atual política monetária. “É inconcebível a atual taxa de juros no Brasil”, disse. Ele avalia que a atual taxa da Selic tornou-se uma amarra insustentável para a política de desenvolvimento industrial no país. “Se não baixarmos os juros, não vai adiantar fazer política industrial”, advertiu o presidente da Fiesp.
Somente pela implementação de uma política industrial sustentável é que o país pode alcançar o pleno desenvolvimento e eliminar a dependência externa de manufaturados. O Nobel de economia lembrou inclusive que a recuperação da indústria americana é o ponto de convergência entre republicanos e democratas nos Estados Unidos, especialmente no que diz respeito à fabricação de microchips, atividade colocada em segundo plano devido à financeirização da economia que marcou os últimos 40 anos. •