O ex-presidente pode vir a ficar inelegível em decisão do TSE, por conta da reunião com embaixadores em que falou mal das urnas eletrônicas e levantou a possibilidade de fraude eleitoral na campanha de 2022

Cerco a Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro está sentindo a pressão aumentar por conta das acusações que pesam contra ele na Justiça. Além da suspeita de corrupção e peculato por conta das joias dadas de presente pela ditadura saudita, ele ainda se vê enrolado na ação que pede sua inelegibilidade por abuso de poder nas eleições presidenciais de 2022. O caso está avançando no Tribunal Superior Eleitoral.

O próprio Bolsonaro admite a possibilidade de vir a ser impedido de voltar a correr em eleições. Nos Estados Unidos, há duas semanas, ele hesitou em apontar uma data para regressar ao Brasil. O ex-presidente está vivendo em Orlando, nos Estados Unidos, desde a véspera do feriado de 1º de janeiro, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a cadeira de presidente da República.

Questionado por jornalistas se tentaria concorrer novamente ao Planalto em 2026, Bolsonaro mencionou a hipótese de se tornar inelegível pelo TSE por causa de reunião com embaixadores promovida pouco antes do início da campanha eleitoral no ano passado na qual criticou, sem provas, o sistema de votação. “Existe essa possibilidade de inelegibilidade, sim. A questão de prisão, só se for uma arbitrariedade”, disse.

O ex-presidente está na mira de outras 15 ações na corte que podem torná-lo inelegível por oito anos. No domingo, 19, em entrevista à Folha de S.Paulo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), disse que uma decisão desfavorável ao pai seria injusta. “Eu acho que, se isso [inelegibilidade] acontecesse, seria a maior atrocidade das últimas décadas”, comentou. “Isso é interferir na democracia”.

Na semana anterior, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres prestou depoimento junto ao TSE. Ele foi ouvido na ação que apura conduta de ex-presidente na reunião com embaixadores, na qual questionou as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral adotado pela Justiça Eleitoral. Torres respondeu às perguntas sobre a minuta de decreto golpista, apreendida na sua casa durante mandato de busca e apreensão.

A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), apresentada pelo PDT, questiona uma reunião que Bolsonaro fez com embaixadores, em julho de 2022, na qual realizou ataques sem provas às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral.

O depoimento foi pedido pelo corregedor-geral eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, para esclarecer uma minuta com teor golpista encontrada na casa de Torres. O ex-ministro negou conhecer a autoria da chamada minuta do golpe. Também teria classificado o texto de “folclórico” e “lixo”.

Torres foi ouvido por videoconferência, durante cerca de 1h30. Ele está preso no 4º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), em um inquérito que apura os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.

A PF encontrou na residência do ex-ministro a minuta de um decreto para instaurar estado de defesa na sede do TSE. O objetivo era mudar o resultado das eleições de 2022. O documento – considerado inconstitucional por especialistas – foi encontrado pela Polícia Federal durante uma operação de busca e apreensão.

O material foi anexado à ação que tramita contra Bolsonaro no TSE, que questiona a conduta do ex-presidente na reunião com embaixadores. O PDT acusou o ex-presidente de se utilizar do encontro, transmitido pela TV Brasil, para atacar a integridade do processo eleitoral e disseminar desinformação. •