Juro alto ameaça crescimento do país
BC confirma que Selic se manterá em 7,8% no 1º trimestre — a mais alta do mundo. Governo trabalha para evitar crise de crédito com Desenrola e MCMV
O Banco Central mantém a taxa Selic em 13,75%. Com isso, a taxa de juros real, descontada a inflação, será de 7,8% no primeiro trimestre. É o maior índice desde o terceiro trimestre de 2015, de acordo com a própria instituição. Os dados constam de uma carta enviada ainda em janeiro pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Mantida a taxa de juro real mais alta do planeta, confirma-se também um cenário de desaceleração econômica que poderia levar o Brasil a uma recessão. Daí a pressa do presidente Lula em reduzir os juros para que o Brasil volte a gerar renda e empregos.
O governo trabalha para conter o risco de uma contração no crédito por meio de programas como o Desenrola Brasil e o Minha Casa, Minha Vida. Um quadro de desaceleração e uma crise de crédito poderia gerar uma reação sistêmica, com capacidade para paralisar o país, advertem economistas.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, anunciou que o governo trabalha para evitar uma crise de crédito e que programas como o Desenrola e o Minha Casa, Minha Vida servirão para melhorar o ambiente econômico do país. A economia, no entanto, precisa de juros mais baixos para funcionar.
“Eu tenho certeza de que todo mundo quer uma taxa de juros menor”, disse o número 2 de Haddad. “E acho que o que o Ministério da Fazenda vem fazendo é construir as condições para que o juro seja mais barato – não só a taxa Selic, mas a taxa de juros que chega para população, para as empresas, na ponta”, explicou o secretário. Ele diz que isso estará alinhado com um projeto que está sustentado nesses três pilares: desenvolvimento econômico, social e ambiental.
O documento do Banco Central informa que a autoridade monetária projeta uma trajetória de queda para os juros reais até o final do ano. Segundo a expectativa do BC, a taxa deve cair a partir do 2º trimestre e atingir 6,9% até dezembro. O movimento poderá chegar com atraso e minar de vez as chances de recuperação da economia brasileira, com o agravamento da crise de crédito, como reconhece a própria ala técnica do BC.
“O endividamento e o comprometimento de renda das famílias têm aumentado”, aponta um documento do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), emitido ainda no final do ano passado. “No caso das pessoas jurídicas, observa-se o aumento dos ativos problemáticos nas empresas de menor porte. Assim, uma frustração substancial do desempenho da atividade econômica pode resultar em elevação do risco de crédito”.
A Fundação Getúlio Vargas emitiu um alerta em fevereiro: “Nossa projeção de crescimento do PIB em 2023 se mantém em 0,2%. Esse cenário resulta de desaceleração que começou no terceiro trimestre de 2022”, destacou o Boletim Macro, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia, o FGV Ibre.
“O risco de um “credit crunch” (ou de uma crise de crédito no mercado privado) está aumentando no Brasil, em parte devido ao elevado patamar das taxas de juros”, comentou a economista Monica de Bolle. “Diferentemente de outros analistas, penso que o próximo movimento do Banco Central deva ser na direção de iniciar um ciclo de baixa da taxa de juros”, defendeu o economista Manoel Pires, do Ibre/FGV, em entrevista à Folha de S. Paulo. “E por vários motivos: atividade econômica está fraquejando, temos uma crise de crédito latente e o real vem se valorizando”, confirmou.
“Com juros altos, é com esse cenário que vamos nos deparar: sem crédito, sem investimento”, criticou a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. “O BC tem de mudar a política monetária pelo bem do Brasil”, clamou Gleisi. •