OMS alerta o mundo: pandemia não acabou
Nações Unidas mantêm classificação de emergência global para a covid-19. Brasil começa a vacinação de reforço, depois das 700 mil mortes no governo Bolsonaro
Mais de mil dias depois da descoberta da doença, milhares de horas de noticiários e debates sobre a doença, prevenção e 15 milhões de pessoas mortas, a Organização Mundial da Saúde volta a advertir: a pandemia não acabou. A covid-19 ainda é uma emergência global. De acordo com a OMS, há pelo menos 3 bilhões de pessoas no planeta sem acesso a qualquer vacina contra a covid-19. Essas pessoas podem contrair o SARS-Cov-2 e desenvolver ainda a forma mais grave da doença, com possibilidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o risco elevado de morte.
O alerta de Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, durante reunião do conselho executivo da entidade na segunda-feira, 30, destacou que a pandemia foi a mais letal em gerações. “Continuamos esperançosos de que, durante o ano, o mundo transite para uma nova fase em que reduziremos as hospitalizações e mortes ao nível mais baixo possível, e que os sistemas de saúde sejam capazes de administrar a covid-19 de forma integrada e sustentável. A vacinação continuará a ser uma parte essencial da nossa abordagem”, afirmou.
Desde o início de dezembro de 2022, há registros do aumento de mortes no mundo. No Brasil, a média móvel de óbitos está em 1.315 registros diários. Medidas como vacinação em massa, ampliação de testagens, uso de antivirais e combate à desinformação continuam sendo estratégias para manter a situação sob controle.
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência e a indicação de Nísia Trindade para o Ministério da Saúde, o enfrentamento da pandemia tomará o rumo da ciência e dos cuidados com a saúde pública. Como recomendava profissionais de saúde e comunidade científica desde 2020. Apesar dos alertas, foram ignorados sistematicamente pelo governo de Jair Bolsonaro.
Cientista social, Nísia Trindade se tornou em 2017 a primeira mandatária mulher da história da Fiocruz em 116 anos, um marco na história da instituição. À frente da Fiocruz, foi uma das principais responsáveis pelo acordo internacional que trouxe ao Brasil a fabricação da vacina AstraZeneca/Oxford durante a pandemia da covid-19.
A ministra já declarou que a nova gestão da pasta adotará uma política de “cuidado e construção coletiva”. Daí apontar que é fundamental o diálogo entre União, estados e municípios. A futura política nacional de imunização tem como primeira providência recompor estoques para planejar as ações.
A situação dos estoques de vacinas do ministério, tanto para o tratamento da covid-19 como de outras doenças, representa “risco real” de desabastecimento de alguns imunizantes, de acordo com o Ministério da Saúde.
O governo Bolsonaro perdeu 370 mil doses da AstraZeneca, incineradas por causa do prazo de validade vencido. O estoque de vacinas Pfizer Baby pediátrica e CoronaVac está zerado, impedindo a vacinação de crianças até o momento. Além disso, o estoque de imunizantes bivalentes, para iniciar a estratégia de vacina de reforço, é insuficiente para garantir doses em quantidade suficiente para completar o esquema de cobertura.
Pesquisas indicam que a alta proteção contra casos graves de covid-19 conferida pelos imunizantes ocorre somente com esquema vacinal completo. No entanto, no Brasil, até janeiro de 2022, 54 milhões de pessoas ainda não tinham tomado a dose de reforço.
Em anúncio na terça-feira, 31 de janeiro, o Ministério da Saúde informou: “diante do cenário de baixas coberturas vacinais, desabastecimento, risco de epidemias de poliomielite e sarampo, além da queda de confiança nas vacinas, é importante ressaltar que para todas as estratégias de vacinação propostas, as ações de comunicação e de comprometimento da sociedade serão essenciais para que as campanhas tenham efeito”. Em nota, a pasta destaca: “A população precisa ser esclarecida sobre a importância da vacinação e os riscos de adoecimento e morte das pessoas não vacinadas”.
“Estamos diante de um cenário de baixas coberturas. Foi atacada a confiança da nossa população nas vacinas. É fundamental retomar a rotina de vacinação para evitarmos epidemias de doenças, inclusive, aquelas já controladas”, destacou Nísia.
De acordo com o ministério, as etapas e fases foram organizadas de acordo com os estoques existentes, as novas encomendas realizadas e os compromissos de entregas assumidos pelos fabricantes das vacinas.
O cronograma de vacinação foi acertado com representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), técnicos e especialistas da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (Ctai).
Além disso, já acordado na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), e pode ser alterado, adiantado ou sobreposto, caso o cenário de entregas seja modificado ou tão logo novos laboratórios tenham suas solicitações aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). •