Editorial - Debelar a reação golpista sem contemplação ou anistia

A tentativa de golpe de estado ocorrida em 8 de janeiro foi o epicentro da trama urdida desde a derrota de Bolsonaro nas eleições de outubro. O principal responsável pela trama tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro. Porém, seria uma pequenez imensa das forças democráticas, e total ausência de horizonte histórico, não reconhecer que a inexistência de punição dos golpistas da Ditadura de 1964 virou uma chaga aberta e instituiu uma espada de Dâmocles sobre a democracia brasileira.

Ao acorrer para as portas dos quartéis, na busca pela intervenção das forças armadas era essa a espada que os golpistas buscavam. Dentre eles, pontificavam como organizadores elementos da chamada “familiar militar”: militares da reserva remunerada, seus familiares e amigos.

A quebradeira promovida pelos terroristas nas sedes dos poderes da República não pode se apagar com a mera reconstrução dos prédios públicos. Seus destroços, as obras de artes e relíquias históricas devem ficar em permanente exposição para que fique patente a animalidade e o desprezo pela arte e a cultura por parte dos psicopatas, homens e mulheres que com total sentimento de impunidade enxovalharam a memória nacional.

É preciso buscar, onde estiverem, organizadores, financiadores e estimuladores do golpismo que ainda perdura. Há civis, militares, jornalistas, juízes, procuradores, parlamentares e empresários compondo essa trama macabra. Não adianta pescar os bagres e deixar os tubarões de fora.

Ao governo cabe a tarefa de usando as prerrogativas da lei, organizar uma política de inteligência de Estado, profissional, aparelhada tecnologicamente e que possa salvaguardar a segurança dos poderes constituídos e de seus membros. Incluindo logicamente o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Enquanto os golpistas sentirem-se escudados na leniência de autoridades nos estados e contarem com uma suposta simpatia das forças militares — mesmo que imaginária — o golpismo não cessará e o fatídico 8 de janeiro será um mero ensaio geral.

Barrar qualquer tentativa que vise a anistia dos criminosos é a tarefa principal de todos que almejam viver em uma sociedade democrática. Até agora, são 1.398 presos na Papuda e na Colméia. Faltam muitos mais! •