Na votação da PEC do Bolsa Família, a bancada do Rio no Senado votou em peso contra os eleitores mais humildes, rejeitando a medida apresentada pelo governo Lula. Até o ex-craque da Seleção que parece ter esquecido o seu passado de origem humilde

Romário, artilheiro do caos social
ALINHAMENTO Senador pelo PL do Rio de Janeiro, Romário se manteve ao lado de Bolsonaro e votou contra a aprovação da PEC do Bolsa Família

Na última semana, estivemos diante de uma decisão importante para o Brasil, e não era o jogo contra a Coréia do Sul pelas oitavas de final da Copa do Mundo do Catar. A votação, no Senado, do texto base da PEC do Bolsa Família. Na discussão, a ampliação do teto de gastos para viabilizar o pagamento do benefício e outros programas sociais.

Senadores e senadoras acabaram aprovando, para os anos de 2023 e 2024, R$ 145 bilhões para além do limite imposto do teto de gastos, dando margem ao governo eleito de Lula para concretizar suas principais promessas de campanha. Foram 64 votos a favor, 16 contra na primeira votação e 13 contra na segunda.

Entre aqueles que negaram ao futuro governo a possibilidade de atender aos mais necessitados, principais vítimas do caos econômico que se arrasta desde o momento mais crítico da pandemia, estão os três senadores do estado do Rio de Janeiro: Carlos Portinho, Flávio Bolsonaro e Romário, todos do PL, partido de Jair Bolsonaro.

Importante destacarmos o papel do senador Romário nesta questão, reeleito nas eleições deste ano com 2.240.045 votos do povo fluminense.

Certamente, entre os eleitores do parlamentar existem beneficiários dos programas sociais, como o próprio Auxílio Brasil — o novo Bolsa Família. Afinal, segundo dados do Ministério da Cidadania, o Rio de Janeiro foi o estado com maior número de inclusões no Auxílio Brasil em agosto, mês de início do processo eleitoral: foram mais de 336 mil famílias que passaram a receber o mínimo de R$ 600, sendo o investimento de mais de R$ 1 bilhão.

No estado do Rio, quase 1,7 milhão de famílias dependem do benefício. Esse número é mais da metade do número de votos do senador Romário, que despontou na disputa contra nomes como o presidente da Alerj, o deputado estadual André Ceciliano (PT), e contra o deputado federal Alessandro Molon (PSB).

Das outras duas figuras do PL não esperávamos coisa diferente, mesmo a ampliação do Auxílio Brasil também ter constado na plataforma de Bolsonaro.

Entretanto, insistimos em questionar a atitude de Romário, que aparentemente esqueceu suas raízes suburbanas de quem saiu do Jacarezinho para ganhar o mundo com seu inegável talento dentro do campo de futebol. É esta a resposta que o senador reeleito dá como agradecimento ao seu eleitorado mais humilde?

Não duvidamos de que muitos daqueles cidadãos do Rio deram seu voto em Romário também pelos momentos de alegria que ele deu vestindo as camisas de grandes clubes do Brasil e da seleção brasileira. De boa fé, muitos eleitores votam pela emoção. Porém, no Congresso Nacional, Romário parece querer despontar não mais como aquele goleador que vestia a camisa 11, mas como um artilheiro do caos social. •