O álbum da mais popular banda de rock de todos os tempos ganha nova versão, remixada por Giles Martin e — acredite! — ainda pode te surpreender. Mesmo que já tenha ouvido o álbum 1 milhão de vezes

<strong>Revolver, dos Beatles. De novo?</strong>

Para um beatlemaníaco, a última década trouxe alegrias inestimáveis para os fãs da banda de rock mais famosa do planeta. A cada ano, os apaixonados pelos Beatles foram brindados com novas reembalagens de velhos discos — ou “clássicos”, para quem curte o pop bretão.

Foi assim com o remix de Sargent Pepper’s, relançado em 2017.  O Álbum Branco, em 2018. Ou Abbey Road, no ano seguinte. E Let it Be, no ano passado. Isso sem falar em Get back, o documentário. Agora é a vez de Revolver, que chegou ao streaming em 28 de outubro. O disco soa fresco e você vai se surpreender como se tivesse saído agora e não em 1966. Pare o que estiver fazendo e vá ouvi-lo. 

A reedição expandida de Revolver, um álbum fundamental dos Beatles, vale uma nova audição, atenta, preciosista e curiosa. O álbum ganha agora cinco discos, em CDs ou vinil, que incluem o álbum mono e novas mixagens em estéreo, juntamente com dois discos de faixas de estúdio inéditas, revelando o trabalho em construção dos quatro fabulosos.

Jon Pareles, crítico do New York Times, teve a pachorra de se emputecer com o pacote, porque achou que os dois CDs extraídos das sessões são escassos. “Duram apenas cerca de 40 minutos cada, combinando com a versão em vinil do conjunto. Havia espaço para mais”, reclama. Ele tem razão.

Os discos são impressionantes, porque revelam em 63 canções como a cabeça de Lennon e McCartney funcionavam, mostram os músicos extraordinários que eram e deixam as bandas indies dos anos 90 e 2000 com aquela sensação de que não sabem nada.

O disco 1 é uma remixagem do disco que aprendemos a amar. O segundo e o terceiro discos trazem takes alternativos das faixas, algumas surpreendentes, por que mostram o processo de composição, depuração e lapidação dos quatro, sempre com a ajuda de George Martin.

A primeira faixa é a mais radical: “Tomorrow Never Knows”. Tem apenas um compasso da bateria de Ringo Starr e uma linha de baixo com salto de oitava — é um loop de fita — assim como o som do tambura e os quase gritos de gaivota, que é a risada de Paul, acompanhada de sons orquestrais e guitarras ao contrário que entram e saem da mistura.

Entre o primeiro take 1 e a versão final, a canção sofreu uma metamorfose e você quase pode imaginá-la como um hit feito nos anos 2000 para tocar em uma rave. Pareles lembra que o trabalho de estúdio levou apenas três dias entre o primeiro rascunho e a solução final, com a voz de John soando como se ele tivesse gritando no alto do Himalaia.

Há ainda a instrumental original de “Rain”, o lado B do single que foi gravado durante as sessões de Revolver e lançado antes do álbum. Ainda tem as primeiras tomadas de “Paperback Writer”, que ganhou o lado A do single.

“Yellow Submarine” se revela como um primeiro lamento de Lennon: “In the place where I was born/No one cared” (“No lugar onde eu nasci/ninguém se importava“). Também surpreende a versão orquestral de “Eleanor Rigby“, com o octeto de cordas usando frases impressionantes de vibrato e legato, arranjadas por Martin.

Pareles diz que as novas mixagens no Revolver expandido, feitas com tecnologia atual e ouvidos do século 21, são um prazer. Isso porque têm mais transparência e uma sensação de espaço mais tridimensional do que as mixagens de 1966. É verdade. E ainda há as versões em mono, que na época eram o padrão, que trazem a banda no auge. Não deixe de ouvir!

PS. E diga obrigado a Peter Jackson. Graças a ele que a tecnologia desenvolvida para Get back, permitiram Giles revisitar o álbum e separar cada instrumento e voz e surpreender a gente 56 anos depois do disco ser gravado. •