Comandantes foram condenados
Filme Argentina, 1985, que está em exibição no Amazon Prime, conta a história do julgamento das juntas militares que governaram o país após o golpe militar, em 1976
Entre 1976 e 1983, a ditadura argentina matou, eliminou e fez desaparecer 30 mil pessoas. Em abril de 1985, a Justiça da Argentina levou ao banco dos réus os comandantes das juntas militares que conduziram a ditadura sangrenta durante os sete anos. E ninguém acreditava que eles seriam punidos. Não havia precedentes no país.
Pois um tribunal civil processou os nove líderes das juntas militares que governaram o país após o golpe de Estado de 1976, por crimes que iam desde homicídio e tortura até privação ilegítima de liberdade. A história do julgamento é retratado no filme Argentina, 1985, do diretor Santiago Mitre, que está disponível no Amazon Prime Video.
O promotor Luis Moreno Ocampo disse à BBC que nem os juízes acreditavam que chegariam ao final do caso. “No próprio Palácio da Justiça, nos olhavam como aberrações, e isso nos gerava uma grande incerteza, não sabíamos se conseguiríamos realizar o julgamento”, reforça Gil Lavedra, que tinha 36 anos na época e era o mais jovem dos seis magistrados.
A crueza dos depoimentos de mais de 800 testemunhas foi registrada todos os dias pelos mais de 500 jornalistas que cobriram o julgamento, e isso permitiu o apoio da opinião pública que havia se mostrado antes reticente. “Todos os dias era como se um prédio tivesse caído em cima de você. Você saía de lá meio destruído. Tudo o que foi dito era tomado pelo que era… terrível”, relembra o jornalista Marcelo Pichel.
O filme 1985 gira em torno do trabalho do Ministério Público. O promotor principal era Julio César Strassera, seu vice era Luis Moreno Ocampo, e — nas palavras deste último — eles foram apoiados por um grupo muito particular. “Era uma equipe de jovens, porque eu tinha 32 anos, mas na equipe de assistentes, o mais velho tinha 27 e os outros 20, 21 anos. Sete rapazes, dos quais dois eram advogados. Ainda hoje quando nos reunimos, nos perguntamos como fizemos isso”, espanta-se. •