Devastação ambiental

O governo de Jair Bolsonaro é um retrocesso. E quebrou um novo recorde: o maior nível de destruição da Amazônia em 12 anos. Os focos de queimadas na floresta chegam a 46.022 registros em agosto, 43% em apenas dez municípios

 

O mês de agosto acabou com o Brasil atingindo novos recordes de destruição da Amazônia, graças à ação criminosa e pela omissão covarde do presidente Jair Bolsonaro. Os incêndios na floresta aumentaram para o ponto mais alto desde 2010, superando os ocorridos em agosto de 2019, quando o mundo se escandalizou com a devastação ocorrida nos primeiros meses da gestão do ex-capitão.

O Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) registrou 31.513 alertas de incêndio na Amazônia via satélite nos primeiros 30 dias de agosto. É o pior registro para o mês em 12 anos, quando os incêndios totalizaram 45.018 no mesmo período em 2010. A destruição ambiental na maior floresta tropical do mundo não tem precedentes. O número de queimadas é tão alto que, segundo o programa de monitoramento ambiental Copernicus, da União Europeia, está afetando a qualidade do ar na América do Sul.

No Twitter, Bolsonaro reagiu às críticas de ambientalistas e da mídia estrangeira, que fez estardalhaço com os últimos dados mostrando o alto número de incêndios e do desmatamento nas florestas brasileiras. “Nenhum desses que nos atacam possui autoridade para fazê-lo. Se queriam uma linda floresta para chamar de sua, que tivessem preservado as de seu próprio país”, escreveu. “Estamos fazendo a nossa parte”. O jornal francês Le Monde destacou: “Desde que assumiu o poder em janeiro de 2019, o desmatamento médio anual na Amazônia aumentou 75% em relação à década anterior”.

Os dados mostram uma degradação ambiental voraz e criminosa nos anos de 2020, 2021 e 2022, quando os meses de julho contabilizaram, juntos, 4.600 km² de floresta derrubada. É um número quase 160% maior do que o registrado entre 2016 e 2018, quando Michel Temer  passou a ocupar o Palácio do Planalto após a derrubada de Dilma Rousseff. Naquela época, a área destruída somava 1.800 km². 

Os dados de agora foram extraídos do Deter, a ferramenta do governo federal que gera alertas para evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia e no Cerrado é usada pelo Inpe. A maioria dos alarmes para incêndios em um ano médio ocorre em agosto e setembro – a época de grandes queimadas na região, quando as chuvas diminuem e pecuaristas e agricultores incendeiam áreas desmatadas para limpar o terreno e permitir o uso da terra. 

Até quarta-feira, 31, os incêndios estavam 12,3% acima dos focos registrados no ano passado e cerca de 20% acima da média do mês na série de dados do Inpe desde 1998. No último dia 22, o Inpe detectou 3.358 focos de calor na região, colhendo dados pelo programa Queimadas. O número supera o que ficou conhecido como “dia do fogo”, em 10 de agosto de 2019. Naquela ocasião, produtores rurais combinaram para o mesmo período a queima de pasto e de áreas em processo de desmatamento.

A situação é alarmante e ocorre justamente quando o assunto sumiu da mídia brasileira. Apenas em julho, uma área de floresta equivalente ao tamanho da cidade de São Paulo — quase 1.500 km² — foi ao chão na Amazônia. O número é 1,5% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, mas segue elevado, sendo o quinto pior mês entre os 84 meses que formam a série histórica da detecção. A tímida redução neste ano está dentro da margem de erro, resultando, em empate técnico com julho de 2021.

No último dia 30, o jornal Washington Post denunciou que a Amazônia está sendo desfeita de maneira criminosa, numa combinação mortal da ação de desmatadores e pela falta de fiscalização das agências do governo federal que, paulatinamente, desde 2019 está secando o orçamento financeiro de órgãos como o Ibama, o ICMBio e a Funai.

A reportagem do Post, assinada pelo correspondente Terrence McCoy mostra que a destruição assinala um caminho sem volta para a floresta. “O apagamento violento e sem lei da Amazônia é talvez a maior história de crime ambiental do mundo”, denuncia o jornal. “Os cientistas alertam que a floresta, vista como vital para evitar o aquecimento global catastrófico, está em um ponto de inflexão. Mas no Brasil, que abriga cerca de 60% da Amazônia, quase um quinto já foi destruído. E praticamente ninguém, dizem os policiais, foi responsabilizado”.

Um levantamento aéreo feito pelo Greenpeace mostra um quadro chocante nas áreas englobando os estados do Amazonas, Acre e Rondônia, no último dia 30 de agosto. O registro de desmatamento em uma área com cerca de 8.000 hectares, equivalente a 11.000 campos de futebol, ardendo em chamas mostra que a ação do homem ocorre sem que aja qualquer tipo de contenção.

“Há um avanço das queimadas em terras públicas. Do total de focos de calor, 13,8% ocorreram em Unidades de Conservação Ambiental, e 5,9%, em terras indígenas (TI)”, destaca  Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil. “Nunca tinha visto um desmatamento tão grande e também com tanta fumaça”. •