Morre o último dirigente da URSS e do PCUS, aos 94 anos

 

O último dirigente comunista da União da Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que liderou o país entre 1985 e 1991,  implementando um conjunto de políticas reformistas na tentativa de salvar o regime soviético, morreu no dia 30 de agosto, no Hospital Clínico Central de Moscou. Mikhail Gorbatchev faleceu aos 94 anos de idade. Sua morte foi notícia em todo o mundo. Ele é apontado como o homem que pôs fim à Guerra Fria e promoveu o colapso do antigo regime comunista, que nasceu em 1917 e foi responsável pela divisão do mundo.

Segundo as agências noticiosas russas Tass, RIA Novosti e Interfax, Mikhail Gorbachev faleceu na terça-feira sozinho e sem angariar qualquer prestígio na Rússia e nas antigas repúblicas soviéticas por trás da Cortina de Ferro. Sob sua influência, o Muro de Berlim, que redesenhou o planeta a partir de 1945, foi ao chão. O mundo jamais foi o mesmo.

Entre 1985 e 1991, Gorbachev ocupou o cargo de secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e liderou o país entre 1988 e 1991. Ele implementou as políticas denominadas Glasnost e Perestroika na tentativa de reformar o sistema soviético, mas estas não impediram o desmembramento da URSS e o fim do regime.

Gorbatchev nasceu em Privolnoye em 2 de março de 1931. Oriundo de uma família camponesa, teve vários trabalhos, até que se licenciou em Direito pela Universidade de Estado Lomonossov, em 1955. Na universidade, juntou-se primeiro ao Komsomol, a organização de juventude do PCUS, e em seguida ao próprio partido onde prossegue uma carreira fulgurante no seio da estrutura do Partido Comunista.

Em 1962, torna-se dirigente na cidade de Stavropol, aproveitando para estudar no Instituto de Agronomia da cidade. Sob o beneplácito do então chefe do KGB, Iuri Andropov e do seu mentor Mikaïl Soulov, ascende ao Comitê Central do PC em 1971 . Em 1978, torna-se secretário do Comitê Central do partido e assume a pasta da agricultura. No ano seguinte entra no grupo restrito do Politburo com 49 anos.

Ele acabou por chegar à liderança da URSS aos 54 anos, na sequência da morte de Konstantin Chernenko e ficou à frente de um país esgotado pela Guerra do Afeganistão, pela corrida armamentista com os Estados Unidos, e enfrentando graves dificuldades pela queda do preço do petróleo. A Rússia já era então uma grande exportadora.

Em início de mandato, cabe-lhe também lidar com o mais grave acidente nuclear: o desastre na Central de Chernobyl, na Ucrânia, ocorrido depois do acidente da noite de 25 de abril de 1986, cuja radioatividade se espalhou pela Europa.

Seu nome será sempre lembrado pelas políticas de denominadas Glasnost e Perestroika. A Glasnost — “transparência” — implicava o reconhecimento da liberdade de expressão e de associação. A Perestroika — “reconstrução” — dizia respeito ao conjunto de políticas econômicas de cunho liberal.

Gorbatchev suspendeu ensaios nucleares, foi o proponente da “opção zero” sobre armas nucleares, apresentada ao então presidente dos EUA, Ronald Reagan, que a recusou. Apesar disso, Gorbachev insiste no desarmamento até que consegue, em 1987, alcança um acordo para redução pela metade nos arsenais nucleares. Em 1990, ganha o Prêmio Nobel da Paz pelo seu papel no fim da Guerra Fria.

Em 15 de maio de 1988, anuncia a retirada das forças militares soviéticas do Afeganistão. Depois de um longo conflito, as tropas saem finalmente do país no ano seguinte. Em 1989, a queda do muro de Berlim, marca o momento da mudança que percorria o leste europeu.

Ele deixa em seguida o poder, com a queda da própria União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O processo interno que conduz à dissolução passou pela criação de uma Assembleia Legislativa com dois terços eleitos por sufrágio direto. Pela primeira vez eram autorizados candidatos da oposição ao PCUS que ganha com uma maioria avassaladora, 88%, mas são os conservadores no seio do partido que estarão em maioria no órgão.

Em março de 1990, uma reforma constitucional cria o papel de presidente da URSS, cargo que ele próprio desempenharia até deixar de existir. É quando Boris Ieltsin surge como alternativa. A Rússia adota uma política de soberania, apesar de no referendo de 17 de março de 1991 a manutenção na URSS ter ganho por ampla maioria (76%). Em junho de 1991, Ieltsin ganha a presidência da entidade russa que pertencia ainda à URSS com 57% dos votos.

Em agosto, acontece o golpe da linha dura do PCUS anti-Gorbatchev para tentar deter a assinatura do tratado de uma nova União que iria substituir a URSS. Enquanto Gorbatchev está em prisão domiciliária na casa de verão, Boris protagoniza a oposição. O golpe acaba por falhar e supostamente Gorbatchev poderia retomar as suas funções.

As atividades do Partido Comunista da Rússia seriam suspensas e em novembro o PCUS é dissolvido. A Comunidade de Estados Independentes substitui a URSS em 21 de dezembro de 1991. Quatro dias mais tarde Gorbatchev demite-se de presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que deixa de existir.

Gorbatchev, celebrado no mundo ocidental, acaba por ser uma figura irrelevante politicamente no seu país apesar de várias tentativas de criação de partidos, movimentos e outras iniciativas. Em junho de 1996 é candidato à presidência da República da Federação da Rússia. Obteve apenas 0,5% dos votos.

Muitos na Rússia o culparam pela profunda crise econômica ocorrida com o colapso soviético e pela redução de status de superpotência do bloco soviético. •

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