A ‘imobiliária’ dos Bolsonaro

Quem pagaria por uma casa com dinheiro vivo? A família do presidente, Quem pagaria por uma casa com dinheiro vivo? A família do presidente sim. Ela adquiriu 51 imóveis dos 107 que acumularam desde os anos 90 em moeda corrente, dinheiro do qual não se sabe a origem

 

O presidente Jair Bolsonaro se gabou nos últimos dias de ter conseguido criar em seu governo — uma mentira — o PIX, que permite a milhões de brasileiros realizaram transações financeiras eletronicamente. Na verdade, o projeto do Banco Central nasceu  antes do atual governo. Mas ainda, assim, estranhamente, a família do mandatário gosta mesmo de operar com dinheiro vivo.

Pelo menos, para comprar imóveis. Dos 107 negociados desde 1990 por Jair Bolsonaro, sua mãe (morta em janeiro), os três filhos mais velhos, cinco irmãos, duas ex-esposas e até um cunhado (cunhado também é parente), 51 foram pagos, total ou parcialmente, em “cash”. Isto é, em espécie.

A tática é adotada por organizações criminosas para “lavar” recursos obtidos ilicitamente. A manobra veio a público em reportagem de Juliana dal Piva e Thiago Herdy, no UOL. Segundo a reportagem, nos últimos 32 anos, quem coincide com a vida pública de Bolsonaro, foram registradas em cartórios, com o modo de pagamento “em moeda corrente nacional”, um total de R$ 13,5 milhões em compras de imóveis. O valor equivale hoje a R$ 25,6 milhões.

Daí parece justificável que Bolsonaro tenha decidido impor um sigilo de 100 anos para informações de atividades do governo, decisão lembrada pelo candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, no debate de domingo na Band, dia 28. No encontro, o petista prometeu acabar com os sigilos por decreto, se for eleito presidente em outubro.

Desde o ano passado, Bolsonaro decidiu que a população não pode saber sobre “temas sensíveis” do governo, como gastos do cartão corporativo, ou mesmo o cartão de vacinação do presidente, além de encontros no Planalto com pastores sem vínculo com o governo, crachás de acesso dos filhos de Bolsonaro ao Palácio do Planalto e despesas com viagens. A lista é grande.

Não consta nos documentos de compra e venda a forma de pagamento de 26 imóveis, que somam um valor de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos pelo IPCA). Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões atualizados).

As matérias também revelam que pelo menos 25 imóveis comprados desde 2003 foram ou estão sendo investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. Incluídas a casa do patriarca no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca (Rio), e a mansão comprada por Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em Brasília. As negociações totalizam R$ 13,9 milhões (R$ 22,6 milhões em valores atuais).

O levantamento considera o patrimônio construído em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Conforme o UOL, até este ano, a família segue proprietária de 56 dos 107 imóveis ao custo de R$ 18,8 milhões. •