40 anos do ‘Cavalo de Pau’, de Alceu Valença

O ano de 1982 é um marco na Música Popular Brasileira. Foi um ano de grandes discos de artistas nacionais, do “Extra”, de Gilberto Gil, a “Cores e Nomes”, de Caetano Veloso, passando por “Asa Morena”, de Zizi Possi. Mas um dos grandes álbuns daquele ano é o incrível “Cavalo de Pau”, de Alceu Valença, lançado pela Ariola.

Este é um dos grandes álbuns de todos os tempos do consagrado artista pernambucano, que começou a vida como jornalista, formou-se em Direito, mas ganhou a vida mesmo como cantor tornando-se um dos grandes ícones da MPB. É neste disco que estão alguns dos grandes clássicos de Alceu, como “Morena Tropicana”, “Pelas ruas que andei”, “Como dois animais” e “Martelo alagoano”.

O álbum estourou em todo o país e vendeu inacreditáveis 1 milhão de cópias. É o oitavo disco do cantor, que havia estourado nacionalmente em 1980 com “Coração bobo” e conseguiu se colocar como uma das grandes estrelas da música brasileira a partir de então. De São Bento do Una para o mundo!

Compactos estouraram — “Tropicana” (Alceu e Vicente Barreto), “Pelas ruas que andei” (Alceu e Vicente) e “Como dois animais” (Alceu)  tocavam em todas as FMs do país — e mostram como Alceu fez um disco de grande apuro popular, bom gosto estético, renovando a MPB com pitadas de música tradicional nordestina — como forró, maracatu e frevo —, além de rock e reggae.

A gama de ritmos regionais, como baião, coco, toada, caboclinhos e embolada e repentes cantados com bases rock’n’roll são um achado. O disco é ainda hoje uma obra que permanece inalterado no tempo, soando com um frescor como se tivesse sido gravado ontem por alguma banda pop brasileira. A canção Maracatu foi feita por Alceu em cima da letra de Ascenso Ferreira, genial poeta e folclorista pernambucano que integrou o grupo modernista nos anos 20 e falecido em 1965.

Com produção de Marco Mazola, então diretor artístico da Ariola, e Sérgio Mello, as composições acabaram tendo um tratamento especial. São oito faixas, mas a gravadora, na época, temia que não vendesse nada. O próprio Mazzola chegou a pedir a Alceu que gravasse mais quatro faixas. O que não aconteceu. “Eu não tinha mais canções. Eu disse: é isso aqui”, lembra.

Alceu colocou um time de primeira linha para gravar as canções nos estúdios Sigla, da Som Livre, no Rio de Janeiro: Jaques Morelenbaum, Repolho, Jorge Degas, Wilson Meirelles, Paulo Rafael, Jurim Moreira, Severo, Zé da Flauta e o próprio Alceu. Estourado no Brasil, naquele mesmo ano ele iria à Suíça para se apresentar no Festival de Montreux. E ainda foi à Holanda gravar outro álbum, “Mágico” (1984). Mas aí é outra história. •