Viagem da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a Taiwan leva a China a uma demonstração de força. Analistas avaliam que os democratas foram imprudentes

 

A complicada relação entre os Estados Unidos e a China atingiu um tensionamento preocupante na última semana. Em meio à Guerra na Ucrânia, que opõe a Otan, Washington e países europeus ao bloco formado por China e Rússia, a presidenta da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, aterrissou em Taiwan na terça-feira, 2, para uma visita que ampliou as chances de piorar o relacionamento entre Washington e Pequim.

Na quinta-feira, 4, um dia depois de Pelosi deixar a região, a China iniciou exercícios militares nas águas próximas à ilha. Pelo menos 11 mísseis foram disparados no maior exercício militar ao redor de Taiwan em décadas. Analistas internacionais interpretaram as manobras de Pequim como uma demonstração de força. A China justificou que os exercícios são “necessários e justos” ao mesmo tempo que culpou os EUA e seus aliados pela escalada.

A mídia europeia se mostrou alarmada e classificou os exercícios do Exército de Libertação Popular como as maiores manobras militares da história da China. Pequim avisou ainda ao G-7 que responderá a qualquer violação de sua soberania, aludindo à visita do presidente da Câmara dos Deputados dos EUA. As forças armadas chinesas — as maiores do planeta — disparam mísseis balísticos, segundo Taipei.

“O mundo enfrenta uma escolha entre democracia e autocracia”, disse Pelosi durante reunião com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. “A determinação dos Estados Unidos de preservar a democracia aqui em Taiwan e em todo o mundo permanece inabalável”. Pequim rugiu fortemente. A reação da China à visita de Pelosi incluiu a proibição de algumas importações de peixes e frutas de Taiwan, mas o impacto mais amplo pode atingir as costas dos EUA. A CATL da China, maior fabricante mundial de baterias para carros elétricos, atrasou sua decisão sobre uma fábrica norte-americana por causa das “tensões” em torno da viagem.

Em Washington, a visita de Pelosi foi considerada, reservadamente, um erro político. A Bloomberg revelou na quinta-feira que a Casa Branca tentou convencer a presidente da Câmara a adiar a visita, mas ela não ouviu os conselhos dos assessores de Joe Biden. Em Pequim, o jornal estatal Global Times destacou em manchete que Pelosi mudou o status quo do Estreito de Taiwan com a visita classificada como provocativa pelo governo de Xi Jinping.

“A reação da China a essa grave intrusão na soberania do país é amplamente considerada racional e razoável, ressaltando sua firme determinação estratégica e paciência suficiente para cumprir seu próprio cronograma na solução da questão de Taiwan”, destacou o jornal chinês. Na tarde de quinta, o site do GT destacava que os exercícios de ‘bloqueio de Taiwan’ do Exército de Libertação Popular atordoam secessionistas e forças externas.

Na quarta, 3, o jornalista Thomas L. Friedman criticou a deputada: a imprudente viagem de Nancy Pelosi a Taiwan coloca a Ucrânia em risco. “Ela faz algo absolutamente imprudente, perigoso e irresponsável”, escreveu. “Nada de bom sairá disso. Taiwan não ficará mais segura nem mais próspera como resultado dessa visita puramente simbólica, e muitas coisas ruins poderiam acontecer”.

Friedman aponta que uma resposta militar chinesa pode resultar nos EUA sendo mergulhados no mesmo momento em conflitos indiretos contra a Rússia e suas armas nucleares e contra a China e suas armas nucleares. “O momento não poderia ser pior. Caro leitor: A guerra na Ucrânia não acabou”.

O New York Times classificou o passeio de Pelosi como muito perigoso. “As ambições da China aumentaram junto com seu poder militar e em breve poderá ser capaz de tomar Taiwan democraticamente governada – mesmo em uma luta com os Estados Unidos”, apontou o jornal. “O presidente Xi Jinping espera obter um terceiro mandato sem precedentes no final deste outono e não pode se dar ao luxo de parecer fraco”. O mundo não está mais seguro depois do desnecessário gesto dos EUA. •

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