Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai vê com bons olhos o novo momento da política na América Latina e se diz otimista com a volta de Lula à Presidência do Brasil. “Ele vai tentar ajudar um pouco mais os setores mais deprimidos do Brasil”, diz

 

 

Enredada. É assim que o ex-presidente do Uruguai  José Mujica (2010-2015) vê a América Latina, uma região que tem “uma grande dívida social” e na qual existe uma tendência “a acentuar a desigualdade”. “Tem problemas de fundo. É o continente que pior distribui a renda e a riqueza. E isso não é de hoje. É um patrimônio histórico”, garante em entrevista à agência EFE na fazenda onde mora com a esposa, a ex-vice presidente Lúcia Topolansky.

Nesse sentido, Mujica fala da situação que vários países do continente atravessam e dos desafios que se avizinham num tempo não muito distante, num ano de eleições e mudanças de governo nas principais nações do continente.

Em particular, o ex-presidente fala sobre a situação do Brasil e da Colômbia, onde já começou uma campanha agressiva para as eleições presidenciais de outubro, nas quais o atual presidente Jair Bolsonaro enfrentará o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mujica está atento às eleições que o Brasil vivenciará em outubro deste ano e destaca que a candidatura de seu amigo Lula da Silva “está indo muito bem”. “Ele nunca vai deixar de ser um sindicalista, ou seja, um reparador de erros e talvez possa fazer bem ao Brasil no sentido de baixar um pouco os decibéis em termos de confronto interno”, enfatiza.

Mujica reconhece que não será fácil para Lula devido ao tamanho do Brasil e ao número de estados que o país possui, o que significa que cada negociação terá “derivações infinitas”.

“O que vai ser diferente na política de Lula, já posso dizer: ele vai tentar ajudar um pouco mais os setores mais deprimidos do Brasil, mas não devemos esperar que Lula faça uma proposta radical, que vai virar o Brasil de cabeça para baixo, ou algo assim”.

Ele também se diz esperançoso sobre o novo momento da Colômbia, cuja história política é marcada por violência. “Paz. Na Colômbia o primeiro problema é a paz”, diz Mujica ao ser questionado sobre os desafios que Gustavo Petro terá pela frente. Ele tomará posse como novo presidente daquele país em 7 de agosto, após vencer o segundo turno em 19 de junho das eleições presidenciais.

Mujica diz que, na história da Colômbia, existe “uma cultura de grande violência” e que espera que o novo presidente “a supere com o povo”. Apesar da afirmação de que Petro será o primeiro presidente de esquerda do país, Mujica garante que houve outros no passado, embora reconheça que será o primeiro “definitivamente de esquerda”.

O novo presidente da Colômbia integrou a guerrilha — o Movimento 19 de abril —, como o próprio Mujica que foi do Movimento Tupamaros de Libertação Nacional em seu país. Apesar disso, Mujica não encontra muitos pontos em comum entre sua figura e Petro. “Ele é mais jovem. É economista e eu sou paisano. Temos preocupações políticas mas, estamos em outra época. Ele pertence à civilização digital, eu não, sou um dos que escreve ao lado o livro”, diz. •

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