Durante discussão em torno do programa do novo governo, especialistas criticam a gestão Bolsonaro por ter apostado na fragilização da saúde pública brasileira. O senador Humberto Costa alerta para o problema do subfinanciamento do setor

 

 

O governo Bolsonaro promoveu um ataque sem precedentes ao Sistema Único de Saúde (SUS), retirando recursos previstos no Orçamento Federal no momento mais delicado para o país, após o enfrentamento da pandemia da covid-19. As perdas financeiras não são poucas e giram na casa de R$ 37 bilhões.  Especialistas dizem que é preciso enfrentar o subfinanciamento do setor.

“Temos de inverter a lógica do gasto público, com meta de 6% do PIB”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE), que participou série Diálogos pelo Brasil, organizada pela plataforma Vamos Juntos Pelo Brasil, na última segunda-feira, 5. Ele e outros especialistas debateram a reconstrução do SUS e o direito à saúde, na segunda-feira, 4.

Segundo o senador, a fragilização do SUS é resultado direto das políticas do governo Bolsonaro. Além de Humberto, que foi ministro da Saúde no governo Lula, o evento contou com as participações da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), além dos médicos e especialistas José Augusto Venda, Carlos Lula e Eliana Cruz.

Além das perdas financeiras, o governo atuou de maneira criminosa e abandonou o povo à própria sorte. “Enfrentamos isso durante a pandemia. As mortes por Covid poderiam ser evitadas”, lamenta Humberto. “O quadro do SUS hoje exige um processo de reconstrução”. O parlamentar tratou de algumas diretrizes propostas no programa de governo Lula/Alckmin.

“A primeira coisa é cuidar da sociedade brasileira, recuperação das políticas nacionais de vacinação e atendimento adequado aos sequelados pela doença”, disse. “Temos que ampliar o controle sobre as doenças, promovendo ação integrada. Outra prioridade é enfrentar as doenças crônicas não transmissíveis e fortalecer o atendimento básico”.

A deputada federal Jandira Feghali, do PCdoB, lembrou que após a tragédia que foi a pandemia, a população tem maior preocupação com a saúde. “Temos perdas de vidas, sequelas psicológicas em toda sociedade, seja pela perdas ou pelo confinamento, muitos casos de suicídio”, advertiu.

Apesar disso, há um aspecto positivo, apontou a deputada. “Temos que realçar que o SUS voltou a ser patrimônio valorizado pela sociedade”, lembrou Jandira. “Todas as classes sociais passaram a valorizar o SUS e isso tem importância política quando estamos falando de reconstrução”.

A deputada disse que é necessário reafirmar a Constituição, que assegura que a saúde é direito de todos. “Não fazemos saúde sem gente e por isso temos que olhar para a carreira dos profissionais da área”, disse. Segundo Jandira, é hora de valorizar médicos e profissionais da saúde com aumento salarial. “São mais de 3 milhões de trabalhadores deste setor”, disse.

Ela fez um chamado para que o debate seja além da defesa do direito à saúde, mas uma luta pela democracia. “Devemos conversar com a sociedade, explicar como funciona um sistema público e as questões federativas, temos que explicar que faltou vontade política para investir”, disse. E relacionou a falta de saúde com a desigualdade social e a volta da fome ao país.

José Augusto Venda, da executiva nacional do Partido Verde e psicanalista, também reafirmou a importância de estarmos preocupados com as sequelas da Covid, assim como as emergências climáticas, que afetam as populações mais carentes, e a volta da fome. “Temos que falar sobre os agrotóxicos e lembrar o que diz o presidente Lula: ações de prevenção e apostar na construção das diretrizes do Juntos pelo Brasil”, comentou.

Carlos Lula foi secretário de Saúde do Maranhão e coordenou o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde durante a pandemia. Ele também comentou as propostas das diretrizes do plano de governo: “Desde 2017 vemos a diminuição dos recursos para saúde pública dentro do Orçamento. O SUS tem perdido muito e pode comprometer uma geração inteira. Precisamos investir na integralidade da saúde”. •

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