Editorial - Lula e o Brasil profundo

Lula ganhará as próximas eleições como o ser humano mais votado da história da humanidade. Isso não só pelo fato de o Brasil ter um grande colégio eleitoral, mas, sobretudo, pela persistência e seu compromisso democrático. Aos 76 anos, Lula se prepara para a sexta disputa presidencial. Desde 1989, mantém uma intensa relação com o Brasil profundo.

A força de Lula se expressa na multidão que o acompanhou em caminhada pelas ruas de Salvador (BA), por ocasião das comemorações do Dois de Julho. Um momento de contato direto com o povo que nenhum outro candidato se dispôs a fazer. Uma ação muito forte e emocionante, com uma troca de energia impressionante, que culminou em um gigantesco ato de massa no estacionamento da Arena Fonte Nova.

No mesmo dia, em Salvador, Bolsonaro realizou mais uma de suas esvaziadas motociatas em um evento no qual voltou a destilar ódio e a espalhar fake news, na tentativa de enaltecer um governo que não entrega nada ao país. O desespero eleitoral do bolsonarismo tem sido acompanhado de provocações pontuais em todos os atos de massa realizados pela candidatura de Lula, em ataques crescentes às urnas e ao TSE e ameaças veladas ou explícitas contra a soberania do voto popular.

O Lula que visita acampamentos dos povos indígenas e assentamentos do Movimento dos Sem Terra — e que percorre as periferias das grandes cidades — é o mesmo Lula capaz de dialogar com naturalidade com os principais empresários do Brasil na Fiesp. É ainda o mesmo Lula que esteve na despedida de Dom Cláudio Hummes, líder católico com compromisso histórico com a democracia e a luta dos trabalhadores. O ex-presidente o conhecia desde o tempo da luta sindical na década de 1970.

Já no Rio de Janeiro, Lula se reuniu com reitores que relataram a completa tragédia que tomou conta da educação superior brasileira. Uma situação caótica que vai desde a nomeação de reitores biônicos pelo governo Bolsonaro até a possibilidade real de universidades fecharem as portas já em setembro, em razão do arrocho orçamentário. Ao mesmo tempo, esses reitores reconhecem o salto histórico que aconteceu na educação brasileira nos governos do PT.

Em meio a depoimentos belíssimos em encontro com sambistas na quadra da Unidos da Tijuca, Lula deu centralidade ao papel fundamental da cultura na formação da identidade da Nação e destacou a necessidade de valorização dos profissionais da cultura. O ex-presidente reafirmou a intenção de recriar o Ministério da Cultura e criar comitês em cada cidade para valorizar a cultura brasileira e sua cadeia produtiva, bem como impulsionar a economia criativa.

Desde o Golpe de 2016 contra a presidenta Dilma, o setor cultural tem sido duramente atacado no Brasil. Afinal, a cultura e a educação são ambientes em que se respira liberdade e crítica, e é típico dos regimes autoritários e de golpes atacarem primeiro, justamente, esses dois segmentos.

Ainda no Rio, Lula participou de encontro com representantes das comunidades, ocasião em que ouviu relatos fortes e marcantes sobre os desafios da sobrevivência diária e de vítimas da violência do Estado. A exemplo de Marielle Franco, são pessoas que sofrem na guerra contra os pobres, especialmente a juventude negra, em razão da completa ausência do Estado e de políticas públicas.

Lula também esteve em um enorme ato popular na Cinelândia. Aproximadamente 50 mil pessoas presentes nesse ponto histórico para as forças populares e que resgata a figura de Leonel de Moura Brizola. Foi ali que o ex-governador realizou grandes comícios. Apesar de terem disputado entre si nas eleições de 1989, Lula e Brizola sempre guardaram em comum o compromisso com a democracia e os movimentos populares, tanto que Brizola chegou a ser vice na chapa de Lula nas eleições de 1998.

O mergulho de Lula pelo Brasil profundo faz com que ele seja o único líder que unifica, dialoga, mobiliza e organiza hoje os movimentos populares. Por isso, também o programa de governo da chapa Lula-Alckmin, que representa um gesto mútuo de repactuação democrática para reconstruir o Brasil, é o único construído com transparência e intensa participação popular, diferentemente de projetos neoliberais fracassados que recolocaram o Brasil no Mapa da Fome, com 33 milhões de brasileiros em insegurança alimentar, e que fazem com que metade dos empregados esteja em trabalho precário e que 33% dos trabalhadores recebam um salário mínimo ou menos.

Lula encontrará um Brasil muito fragilizado do ponto de vista fiscal, com um abismo social e tensionado no campo da política. Um país que é um espelho partido que não consegue mais projetar uma imagem de reconhecimento no concerto das nações e que é uma pálida lembrança daquilo que foi nos governos do PT.

Mas, com compromissos claros com a democracia, a paz, a solidariedade, o desenvolvimento sustentável, a estabilidade, o meio-ambiente, a justiça social e a nossa soberania, é Lula quem vai recolher os cacos para reconstruir esta Nação.

A vitória de Lula será decisiva para a América Latina e é esperada por todo o mundo civilizado. Mas, especialmente, por esse Brasil profundo que vai fazer de Lula o único presidente reeleito para um terceiro mandato, o único presidente operário e o homem público mais votado da história do país.