TÁ TUDO MUITO CARO
Alimentos, gás de cozinha, combustíveis…
A alta da inflação torna insustentável a vida do povo. Falta dinheiro para os brasileiros. Bolsonaro conseguiu um novo recorde: a inflação mais alta em 28 anos
O que parecia ruim, se tornou pior. A crise na economia se espalha rapidamente e o governo está sem controle sobre o problema que mais aflige atualmente o povo brasileiro: a inflação. Sob pressão dos combustíveis, a inflação do mês de março surpreende e é agora o principal desafio do governo Bolsonaro. A alta de 1,62% do IPCA em março, divulgada na sexta, 8, é a maior nos últimos 28 anos. A inflação quebrou o recorde estabelecido em 1994. Um feito e tanto para a equipe econômica liderada pelo ministro Paulo Guedes.
Mas para os mais pobres, a carestia castiga ainda mais. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que calcula a inflação para famílias de baixa renda, subiu ainda 1,71% e também é o índice mais alto para março desde 1994. Agora, o INPC acumula em 12 meses variação de 11,73%. O IPCA chega a 11,30%.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabiliza diretamente o governo pelo descontrole nos preços dos alimentos e dos combustíveis. “Tá caro e a culpa é do Bolsonaro”, acusa. “A inflação funciona em efeito dominó. Quando dispara, leva todos os preços junto. A situação poderia ser menos grave se Bolsonaro não tivesse fechado 27 unidades armazenadoras da Conab”.
O aumento de itens de hortifruti em todo o Brasil em 2021. A cenoura subiu 121,18% em 12 meses, na média nacional. O mamão papaia subiu 61,67% em um ano e o tomate, 55,87%. Os dados foram coletados pelo IPC-10/FGV e são de 28 de março de 2022. O itens deveriam fazer parte da alimentação diária do brasileiro e sua falta traz um impacto muito negativo na saúde no bem-estar do nosso povo.
O grupo alimentos e bebidas, elemento com grande peso no cálculo do INPC, sofreu alta de 2,42%, a maior desde novembro de 2020: 2,54%. A maior pressão veio do preço do tomate: 27,22%. Também pesaram itens como cenoura (31,47%), que acumula alta de 166,17% em 12 meses, leite longa vida (9,34%), óleo de soja (8,99%) e frutas (6,39%). Mas os grupos não alimentícios também aceleraram e subiram 1,50% em março.
A situação está se agravando e a fome está atingindo mais famílias. Dados mostram que 35% dos mais pobres, com renda familiar de até dois salários mínimos — R$ 2.424 —, estão sem comida suficiente no prato. O fenômeno está acontecendo de maneira recorrente.
Entre os que ganham entre dois e cinco salários mínimos, 13% identificaram falta de comida na mesa. São níveis semelhantes aos registrados em 2021. No grupo dos desempregados, 38% declararam que não tiveram comida suficiente. Entre os autônomos, foram 26%, assim como para 20% dos assalariados sem registro formal e 28% dos desocupados que não estão à procura de trabalho.
Em março, a cesta básica de alimentos teve alta nas 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com base na cesta mais cara, o órgão que presta assistência às centrais sindicais calcula o salário mínimo necessário para uma família de quatro pessoas no Brasil: R$ 6.394,76.
O IPCA veio muito acima das projeções mais pessimistas do mercado e provocou a revisão imediata das expectativas para a inflação e para a taxa de juros no ano. Isso é ruim para o país e para os brasileiros, que vivem o drama da perda de renda e do poder aquisitivo. Além de ser a maior taxa para o mês desde 1994, a inflação de março preocupa porque, apesar de ter sido puxada por combustíveis, mostra alta mais generalizada de preços.
O mercado avalia que a única ferramenta do Banco Central nesse momento passa a ser o câmbio. “Para gerar a desinflação que a gente necessita ter no país, talvez o instrumento principal seja usar câmbio. E a forma do BC ter isso é fugir um pouco dos 12,75% que tem sinalizado, ir um pouco acima”, defende Tomás Goulart, , economista-chefe da Novus.
Em comunicado a clientes, instituições financeiras apontaram uma surpresa espalhada na elevação dos preços de diversos grupos. Ainda que se aponte para o avanço de gasolina para além do que se esperava, foram observadas surpresas grandes produtos como leite e derivados, vestuário, conserto de automóveis e hospedagem. Segundo o IBGE, mais de um terço (34,5%) da alta de 1,62% do IPCA veio dos itens que sofreram reajuste de preços da Petrobrás nas refinarias para as distribuidoras. Juntos, gasolina, óleo diesel, gás de botijão e gás veicular representaram 0,56 ponto percentual (p.p.) do IPCA de março.
O gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, alerta, no entanto, que há uma inflação mais espalhada. Em março, o índice de difusão medido pelo IBGE – que considera a parcela de subitens em alta – foi de 76,13%, o maior desde fevereiro de 2016 (77,21%). “De fato, se considerar a difusão do indicador, temos uma inflação mais espalhada. Nesse mês em particular, há um efeito dos combustíveis, que afeta outros grupos, como alimentação e bebidas. Alimentação foi afetado pelos fatores climáticos, mas também pela questão do frete”, apontou. •