50 anos do poderoso Chefão
A obra genial de Francis Ford Coppola é um marco do cinema americano
Tela preta. Ao fundo, um violino chora o tema de Nino Rota. “Eu acredito na América”. Esta é a primeira fala do filme “O Poderoso Chefão”, a obra-prima de Francis Ford Coppola, baseada no livro magistral de Mário Puzo. É dita por AmerigoBonasera, um tipo calvo do alto dos seus 50 e poucos anos, a pedir justiça para sua filha, barbaramente surrada e estuprada por dois homens. Eles saíram livres quando o caso foi para o tribunal.
Bonasera fala direto à câmera, que vai se afastando pouco a pouco, de maneira quase imperceptível. Sua voz é amarga e transparece o rancor de um homem ferido. Seus olhos estão escondidos pelas sombras. Vê-se as mãos enormes de um homem. E, da penumbra, a cabeça maciça de um homem aparece gradualmente emergindo da escuridão: “Por que você não me procurou antes, por que buscou a polícia e a justiça?” Bonasera sussurra em seu ouvido e então ele está em cena.
Don Corleone. O padrinho. Um homem poderoso, com aparência de um buldogue, o queixo proeminente para frente, um bigodinho saliente sobre a boca, curvada para baixo como num esgar de raiva ou desesperança. Ele coça o queixo com a unha do anular. E responde: “Isso eu não posso fazer”, balançando a cabeça. Passaram-se apenas 3’45” da cena inicial do filme que rompeu barreiras e se tornou uma das obras-primas mais cultuadas da história do cinema mundial, mas você está hipnotizado pela película, a história, a música e a fotografia.
“Chefão” estreou em 15 de março de 1972 nos cinemas americanos. E virou pelo avesso a indústria. É considerado o primeiro blockbuster. Une a magia do cinema, uma história sobre gangsteres e uma crítica à própria América. Ainda assim, ganhou fama. E fez um sucesso estrondoso de público e crítica. É uma aula magistral de como contar uma história — a história da Máfia — de maneira grandiosa e eloquente, como só um italiano saberia fazer.
Curioso, porque Coppola achava que o filme seria um desastre. Ele não queria dirigi-lo, não era a primeira escolha da Paramount — que desejava Sergio Leone — e só topou fazer o filme porque estava devendo 400 mil dólares à Warner Brothers. Ainda assim, assumiu a direção, mas o mérito é mais de George Lucas do que do próprio Coppola. Foi o amigo que insistiu para que ele aceitasse dirigir o filme.
Em Nova York, a estreia foi marcada por uma tempestade de neve que não parecia ser um convite para sair à rua. Ainda mais para ir ao cinema. Ainda assim, as filas davam volta nos quarteirões. O filme estreou em 316 salas de cinema. E foi um arraso. Quando a temporada acabou, “Chefão” tinha arrecadado nada menos que US$ 86,2 milhões. Só nos EUA.
Para resumir, o filme de Coppola lançou Al Pacino, recolocou Brando num de seus maiores papéis e ainda tem, de quebra, Robert Duvall, Diane Keaton, James Caan e John Cazale. Se você não assistiu, prepare-se. Corra para uma sala de cinema. Pois “Chefão” chega agora às telas de cinema em cópia restaurada e remasterizada em 4K. Filmaço! •