O Brasil tem condições de se tornar a grande potência ambiental do planeta no século 21. Temos um potencial de energia eólica, solar e hidrelétrica imenso; um patrimônio de sociobiodiversidade na Amazônia que é um ativo econômico estratégico em biotecnologia, genética, farmacologia, cosméticos.

Podemos ainda realizar um processo de reindustrialização verde que interrompa a escalada da reprimarização de nossa economia e termos produtos de maior valor agregado. Já contamos com muitos empreendimentos de agroecologia e plantio de produtos de grande valor em agroflorestas. Todo esse potencial é uma grande oportunidade para geração de empregos e empreendimentos ligados à agricultura familiar e orgânica, às comunidades tradicionais dos diferentes biomas.

Por fim, ainda temos uma grande reforma urbana e ambiental com altos investimentos em saneamento básico, mobilidade, habitação, reconstrução de nossas cidades e criação de áreas verdes criarão milhões de empregos.

Trata-se de um caminho para um novo tipo de desenvolvimento, a transição socioecologica, e esse caminho recolocará o Brasil no cenário internacional, no qual os governos Lula e Dilma proporcionaram ao país ser um grande articulador e fomentador dos acordos de preservação ambiental e mitigação da emissão de carbono na atmosfera.

O Brasil nos últimos anos aprofundou um caminho equivocado economicamente, concentrador de renda e destruidor do meio ambiente. Aprofundamos nosso perfil de “colônia de extrativismo”, que fomos desde a chegada dos colonizadores às terras do Brasil, com diferentes ciclos de exportação de matéria prima, pilhagem de recursos naturais e concentração de renda e poder: os ciclos do Pau-Brasil, da cana de açúcar, do ouro, da borracha, do café.

Tivemos no século 20, especialmente a partir da industrialização do período Vargas, da criação da Petrobrás, do plano de metas de Juscelino Kubitschek, da industrialização durante a ditadura militar, uma mudança no perfil de nossa economia. A indústria chegou a responder por 30% do PIB em 1980, mas um longo processo de reprimarização da economia começou no governo FHC e foi acelerado nos governos Temer e Bolsonaro.

Convertemo-nos em uma economia que produz matéria-prima para o mundo industrializado, como soja, café, milho, açúcar, laranja, minérios de ferro e outros. São produtos de baixo valor. E compramos os produtos tecnológicos dos países centrais — China, EUA e Europa —, de alto valor agregado.

Nos governos Lula e Dilma, chegamos a montar uma estrutura de indústria do petróleo, indústria naval e construção civil e pesada que firmou o Brasil como referência nessas áreas, e tornamos o parque das universidades e centros de pesquisa forte e com produção científica e tecnológica com equiparação à das maiores economias.

Entretanto, a Lava Jato e o neoliberalismo anacrônico e fundamentalista destruíram esses patrimônios e tornamo-nos uma grande fazenda para produção de artigos primários, a um custo ambiental assustador.

Tal custo ambiental é tão alto que as próprias potências centrais que se beneficiaram com a produção dessa pauta primária anunciam que podem levantar barreiras comerciais ao Brasil por conta da destruição das florestas, do uso de agrotóxicos e do passivo ambiental provocado por uma atividade mineradora predatória, que precisa de uma redefinição e uma readequação aos parâmetros da razoabilidade e da segurança para a vida das pessoas.

A preservação e o reflorestamento da floresta amazônica são essenciais para que atinjamos as metas com as quais nos comprometemos, de redução da emissão de carbono, em 2015 no governo Dilma. Ao mesmo tempo, sem a floresta amazônica, o regime de chuvas diminui, colocando em risco o próprio agronegócio e a geração de energia elétrica nas barragens no Centro Sul do país.

Pagamos hoje uma conta de luz altíssima e temos quebra de safras como consequência da falta de visão de um projeto de sustentabilidade. Um amplo programa de reflorestamento, de preservação e revitalização do bioma amazônico e dos demais biomas que correm risco, como o Pantanal, o Cerrado e a Mata Atlântica, gerará pelo menos 2 milhões de empregos diretos, em estimativas razoáveis.

A floresta de pé com os rios fluindo já testemunha experiências mais rentáveis e sustentáveis do que as atividades de plantação de soja ou pecuária. O plantio de açaí, no Pará, não é a única experiência exitosa, que mantém a floresta preservada, produz riqueza e não emite carbono por não ter queimadas e agrotóxicos.

A rentabilidade do açaí é cinco vezes maior do que a soja, e 10 vezes a da pecuária extensiva. Além disso, a riqueza produzida fica para a comunidade local, organizada em cooperativas. Podemos fazer mais. Precisamos de programas de estímulo às agroflorestas com comunidades tradicionais, agricultura familiar, indígenas, com financiamento de bancos oficiais e apoio técnico da Embrapa, que conta com gente qualificada para esse grande projeto de redefinição do perfil produtivo.

Essa produção, assim como a do cupuaçu, da pupunha e de mais de 50 produtos da floresta podem ser beneficiadas, agregar valor com uma industrialização para alimentar nosso grande mercado interno com produtos hoje importados.

Meio ambiente também são as cidades, que concentram mais de 70% de nossa população. Vivemos hoje em cidades não planejadas, grandes amontoados sem qualidade de vida ou um equilíbrio ambiental. Contamos com um déficit de 35 milhões de pessoas não têm acesso a água potável, e 100 milhões dos quase 212 milhões de brasileiros não têm sistema de esgoto sanitário.

As águas residuais nesses locais são lançadas sem tratamento na rua ou em rios, lagos e no mar. Esse é um problema ambiental!

O investimento para resolver esse problema urbano e ambiental demandará mais de R$ 450 bilhões por anos, e fará a construção civil voltar a ser a grande geradora de milhões de empregos para os brasileiros. A mobilidade urbana e a construção de habitação para o povo também gerarão empregos e desconcentrará a renda, mas devem estar acompanhadas de uma política de sustentabilidade ambiental, seja usando energia solar em futuros empreendimentos do Minha Casa Minha Vida ou investindo em mobilidade elétrica (carros, ônibus, trens, metrô, caminhões), o que por si só abre toda uma fronteira de novos empreendimentos científicos, tecnológicos e industriais.

Lula e Dilma deixaram o Brasil com autoridade moral internacional para falar em nome do “Sul Global”, propugnando por uma ordem mundial com menos desigualdade, com inclusão social e que promova uma transição energética e para uma economia de baixo carbono ou até com emissões neutras.

Os dois governos golpistas que se seguiram depois do PT arranharam o patrimônio diplomático brasileiro, mas a comunidade internacional aguarda a volta de Lula para ser o melhor intérprete desse mundo diferente socialmente e viável ambientalmente para a sobrevivência humana. Trata-se agora de aprender com o caminho aberto pelos governos do PT em 13 anos e aprofundar as políticas visando uma transição socioecologica.

`