O filme Eduardo e Mônica, de René Sampaio, faz justa homenagem à canção de Renato Russo e à doce Brasília do fim da ditadura

 

 

Imagine crescer na adolescência em Brasília, em meio aos estertores da ditadura militar, quando a cidade ainda era vazia e a esperança quase palpável, apesar da repressão da Polícia do Exército, onipresente nas ruas. A capital mais jovem do país era também o palco de experimentos artísticos de adolescentes, que faziam música e arte em meio às tardes de tédio. O filme Eduardo e Mônica, dirigido pelo brasiliense René Sampaio, capta o espírito da cidade ao transformar em história a canção homônima, eternizada por Renato Russo e a Legião Urbana.

Em cartaz em todo o país, o filme conta a história de um casal que se apaixona na Brasília daqueles doces anos 80, transformando a capital em cenário e pano de fundo do romance que embalou duas gerações. Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração. A película é linda e delicada e o casal querido parece ter realmente existido e é vivido pelos incríveis Gabriel Leone e Alice Braga. O filme foi rodado em 2018 e teve sua estreia, prevista para acontecer em 2020, adiada pela pandemia da Covid.

A história de amor do garoto que jogava futebol de botão com seu avô, tinha aulinhas de inglês e andava de bicicleta, enquanto Mônica gostava de Bauhaus, queria ver o filme de Godard e andava de moto é encantadora. Além de Alice e Gabriel, que vivem os personagens principais, o filme tem ainda no elenco Otávio Augusto, Fabrício Boliveira, Juliana Carneiro da Cunha, Eli Ferreira, Victor Lamoglia e Ivan Mendes.

Os dois personagens se chocam e mostram que, apesar das muitas e profundas diferenças, o amor vence a tudo. Mônica é uma jovem estudante de medicina, filha de um artista e militante comunista que viveu exilado. Ela é fluente em alemão, artista e engajada, tendo de lidar com a perda do pai. Já Eduardo é um adolescente de 16 anos, inexperiente, que vive com o avô, um capitão reformado do Exército, numa pacata vila militar em Brasília, ainda desabrochando e, levado por um amigo, encontra a mulher da sua vida numa festa em que Monica faz uma performance artística.

Apesar das diferenças, inclusive de idade, os dois se descobrem e se apaixonam. A chama da paixão intensa mostra seus altos e baixos, com desencontros e crises do casal, que se afasta e se reaproxima à medida que percebem o quanto são importantes um para o outro.

Brasília brilha ao fundo da história de amor, com cenas que se passam no Congresso, no Parque da Cidade, no Minhocão da Universidade de Brasília, na majestade das águas do Lago Paranoá… Tudo isso embalado por uma trilha que é um convite à nostalgia, com canções de Bonnie Tyler, Titãs, The Clash, A-ha, B-52’s e, claro, Legião Urbana.

René Sampaio conseguiu um feito e tanto com o filme, que merece não apenas ser visto como revisto. O diretor se superou — e muito — alcançando o que havia tentado antes com com Faroeste Caboclo, outro filme seu baseado numa canção de Renato Manfredini Júnior. Se na outra película a história de João de Santo Cristo não parecia crível, Eduardo e Monica agora não só se tornam reais, como formam um casal apaixonante e querido que já entrou para a história do cinema nacional. •

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