A mais indecente concentração de renda do mundo vem sendo executada com afinco e de maneira persistente pelo governo federal desde o impeachment de Dilma. Hoje, o Brasil é uma das nações mais desiguais do planeta. A fome voltou a ser um problema persistente e a maioria do povo está mais pobre

 

 

A concentração de renda no Brasil, que é histórica e só foi reduzida parcialmente durante os períodos dos governos Lula e Dilma, aumentou ainda mais durante os últimos anos, desde a queda da presidenta em 2016. Agora, no país, os 20 maiores bilionários do Brasil têm mais riqueza do que 128 milhões de brasileiros, o correspondente a 60% da população. Os dados foram divulgados pela Oxfam, a ONG inglesa no início do ano e fazem parte de um estudo global que mostra o alto grande de concentração de renda no mundo.

Mas, no Brasil, a pandemia da Covid-19 acelerou o agravamento da crise social e econômica. De abril de 2020 a abril de 2021, estima-se que 377 brasileiros perderam o emprego por hora. No pior momento da crise, quase 1.400 brasileiros foram demitidos por hora e o Brasil registrou recorde de 14,4 milhões de desempregados em abril de 2021. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem denunciado que a crise social aguda que o país enfrenta é resultado direto da política econômica adotada por Michel Temer em 2016 e aprofundada por Jair Bolsonaro.

“O discurso que se fazia depois do golpe na Dilma era que o país ia melhorar, que o país ia crescer e ia ter mais emprego”, lembrou em entrevista na sexta-feira, 28. “Tudo piorou. Piorou o investimento em educação, em saúde, a geração de emprego e a questão do salário”. Lula, que ainda não se lançou oficialmente candidato à Presidência da República, tem percorrido o país, concedido entrevistas e se reunido com líderes políticos e representantes de entidades da sociedade civil para voltar a colocar o povo no Orçamento.

“A minha prioridade é discutir como combater a fome, como gerar emprego e aumentar o salário nesse país”, disse na entrevista concedida na sexta a uma rádio do Paraná. “Como garantir o respeito aos negros, as mulheres, aos indígenas. Como reduzir o desmatamento”. Ele declarou que o país não se desenvolverá enquanto excluir a maior parte de sua população. Em tom crítico em relação ao governo Bolsonaro, Lula chama a atenção para o encolhimento da renda dos trabalhadores sob Paulo Guedes. “Durante o governo do PT, 82,9% dos acordos dos trabalhadores eram de aumento real de salário, acima da inflação. A vida era melhor e o povo consumia mais”, lembrou.

É fato que a desigualdade social vem aumentando no país. Segundo o IBGE, em 2018 o Brasil era o oitavo país mais desigual do planeta e a desigualdade de renda havia atingido o maior patamar desde 2012, quando a renda dos 10% mais ricos era 13 vezes superior à média dos 40% mais pobres. Negros e mulheres, base da pirâmide social brasileira, continuam sendo os mais afetados nesse contexto.

No final de dezembro, o World Inequality Lab, co-dirigido pelo economista francês Thomas Piketty, constatou que a desigualdade aumentou com Bolsonaro e pandemia. No Brasil de Bolsonaro e Guedes, aqueles que estão no topo da pirâmide social do país — os 1% mais ricos — são donos da metade da riqueza do país, enquanto os 50% mais pobres detêm 1%.

Os dados assustadores constam do relatório The World Inequality Report 2022. A desigualdade aumentou entre 2019, quando os 10% mais ricos detinham 58,6% da renda nacional. Em 2022, o pequeno grupo controla 59% da economia. A metade mais pobre, que concentrava 10,1% agora detém 10%.

O estudo cita que “desde os anos 2000, a desigualdade foi reduzida no Brasil e milhões de indivíduos tirados da pobreza, em grande parte graças a programas governamentais, como o aumento de o salário mínimo ou Bolsa Família” — dois carros-chefes adotados nos governos de Lula e Dilma.

O fato é que o Brasil está mais pobre do que há dez anos. Entre 2012 e 2022, a fatia de domicílios brasileiros que integra as classes D e E aumentou de 48,7% para 51%, mostra levantamento da consultoria Tendências. Em números absolutos, são 37,7 milhões de domicílios compondo a base social neste ano.

Lula tem alertado que a volta do Brasil ao Mapa da Fome precisa ser revertida rapidamente. A fome disparou durante a pandemia. Em dezembro de 2020, 55% da população brasileira estava em situação de insegurança alimentar — 116,8 milhões, equivalente à população conjunta da Alemanha e Canadá — e 9% passavam fome — 19,1 milhões.

Isso é um retrocesso aos patamares verificados em 2004, quando Lula estava em seu segundo ano de governo. A fome agora afeta mais as mulheres e os negros no Brasil – 11,1% dos domicílios chefiados por mulheres e 10,7% dos domicílios liderados por negros passavam fome no final de 2020, em comparação com 7,7% dos domicílios chefiados por homens e 7,5% das famílias encabeçadas por brancos.

O ex-presidente tem defendido que como solução a adoção de uma reforma tributária justa – como a apresentada pelo PT e outras legendas da oposição ainda em 2019, antes da pandemia da Covid. Pesquisa da Oxfam Brasil indica que 84% dos brasileiros concordam em aumentar os impostos dos muito ricos para financiar políticas sociais.

Em entrevista à agência alemã de notícias Deutsche Welle, a cientista política Camila Rocha, autora do livro Menos Marx, Mais Mises: O Liberalismo e a Nova Direita no Brasil, disse que o maior problema do Brasil hoje é o aumento exponencial de pessoas passando fome e de pessoas em situação de insegurança alimentar”, afirma. De acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, 55% da população brasileira vive em situação de insegurança alimentar.

`