Meio século depois de chegarem ao fim, os Fab Four ressurgem em documentário espetacular de Peter Jackson. O filme permite vislumbrar como os quatro músicos mais famosos do mundo operavam milagres em um estúdio de gravação em 1969

 

 

Quando Paul McCartney anunciou o fim dos Beatles ao mundo, em 10 de abril de 1970, John Lennon e George Harrison já não davam nada pelo quarteto mais importante da história da música do século 20. A banda vinha de desencontros musicais e os interesses dos quatro roqueiros, que cresceram aos olhos do mundo como amigos inseparáveis nos anos 60, já não eram os mesmos.

O canto do cisne seria o álbum Let it Be, lançado em 8 de maio, duas semanas depois de chegar ao público o álbum solo de Paul: McCartney. A manobra do baixista deixou Lennon furioso, porque havia a expectativa em torno do último álbum do quarteto, eclipsado pela jogada de marketing do seu parceiro.

O fim da banda foi o enterro dos sonhos engendrados pela juventude dos anos 60. A ressaca que seriam os 70 jogaram a magia da era das revoltas juvenis na dureza da vida adulta sem emprego ou escapismos. Do verão do amor em 1967 só restavam as lembranças na Londres, fria e dura, do sorriso de Margareth Thatcher.

O enterro dos Beatles foi horrível e está documentado no filme Let it Be, que mostra os garotos de Liverpool distantes e insensíveis, desentendendo-se por qualquer coisa. Paul McCartney é retratado como mandão, enquanto Lennon e Harrison parece enfastiados do convívio brutalizado no estúdio de Twickenham, captados por Michael Lindsay-Hogg. O fime foi lançado em maio de 1970.

Pois foram necessários 50 anos para que os fãs dos Fab Four voltassem no tempo para entender de verdade o que se passava com a banda mais talentosa do rock. O documentário Get Back, disponível no serviço de streaming Disney+, reconta a história.

O diretor Peter Jackson mostra em quase nove horas de filme, dividido em três capítulos, os momentos da banda em janeiro de 1969. A ideia era lançar o filme em todos os cinemas do mundo no ano passado, mas a pandemia mudou tudo. O que se tem agora é um documentário que captura a magia dos Beatles em estúdio e o processo de desenvolvimento da banda, inclusive seu desgaste.

Get Back é um documentário à altura dos Beatles e de seu tempo e traz os quatro artistas no processo de criação de canções, algumas emblemáticas — “Get Back”, “I Me Mine” e “Gimme Some Truth”, brindando a audiência com a possibilidade de se ver dentro do estúdio com os quatro. Ainda traz momentos especiais, como o desenrolar do processo de gravação e apresentação do show do quinteto — a presença de Billy Preston serviu para dissipar o azedume registrado no começo do projeto —, no topo dos estúdios da Apple, em Saville Row.

Mais do que tudo, Get Back mostra a banda em toda sua intimidade e revela que, apesar do desgaste musical, o grupo tinha uma química inacreditável, em que um simples olhar ou sorriso entre os quatro era capaz de levar o ouvinte a um lugar distinto. O documentário é um presente aos fãs dos Beatles, mas, principalmente, aos doces e rebeldes anos 60. O tempo em que a música parecia ser a chave para mudar o mundo. •