“O mundo está alerta. Talvez, pela primeira vez, um país, em investigação que não é num período de guerra, avalia um chefe de Estado como alguém que cometeu crimes contra a humanidade”, lembra Humberto Costa. Imprensa mundial repercute

 

Seis meses depois do início das investigações sobre desmandos e crimes que geraram um dos maiores índices de mortalidade do mundo durante a pandemia – mais de 605 mil vítimas —, a CPI da Covid chegou ao fim dos seus trabalhos consagrando um relatório final em sessão histórica, na terça-feira, 26, culminando com a aprovação do documento que lista 79 duas pessoas, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, e mais duas empresas pela tragédia que levou à morte milhares de pessoas.

Por 7 votos a 4, os senadores aprovaram o documento de mais de 1.200 páginas, que confirmou os 12 delitos pelos quais Bolsonaro terá de responder, incluindo crimes contra a humanidade. A comissão aprovou a quebra do sigilo do líder da extrema-direita brasileira nas redes sociais em função da live na qual ele associou falsamente a vacinação contra a Covid-19 com o desenvolvimento do vírus da Aids. Além de Bolsonaro e dos três filhos — Flávio, Carlos e Eduardo — autoridades, aliados do governo, ministros e ex-ministros também foram apontados pela CPI como suspeitos de crimes.

Entre as autoridades, estão os ministros Marcelo Queiroga (Saúde), Onix Lorenzoni (Trabalho), Wagner Rosário (CGU) e Braga Netto (Defesa), além dos ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). Também foram incluídos os deputados federais Bia Kicis (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP), Carlos Jordy (PSL-RJ), Osmar Terra (MDB-RS) e Ricardo Barros (PP-PR). 

O relator Renan Calheiros (MDB-AL) incluiu no documento final uma recomendação para que o Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalize a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no Sistema Único de Saúde (Conite). O órgão suspendeu análise de parecer contrário ao uso do ‘kit covid’ para tratar a doença.

“O mundo está alerta”, diz Humberto Costa (PT-PE). “Talvez, pela primeira vez, um país, numa investigação que não é num período de guerra, nem de disputas étnicas, nem em meio a atos de terrorismo, julga, avalia um chefe de Estado como alguém que cometeu crimes contra a humanidade, atacou a democracia e deu tratamento vil às populações indígenas”.

A aprovação do relatório ganhou destaque na imprensa internacional. Os principais diários e agências de notícias do planeta repercutiram o pedido de indiciamento de Bolsonaro crimes cometidos na crise sanitária. Os jornais The Guardian, The Times, New York Times, Washington Post, Le Monde, Libération, Público, Diário de Notícias, Página 12 e Clarín, além das revistas Der Spiegel e The Economist, assim como agências como BBC, Reuters e Associated Press, deram amplo destaque ao encerramento dos trabalhos da CPI.

O New York Times enfatizou que o relatório “acusa Bolsonaro de ter provocado milhares de mortes desnecessárias ao desestimular o uso de máscaras, ignorar ofertas de vacinas e promover drogas ineficazes contra a Covid-19”. Já o Washington Post detalhou os crimes que pesam sobre o presidente: “acusações que vão de charlatanismo e incitação ao crime ao uso indevido de fundos públicos e crimes contra a humanidade”.

Humberto disse que, se não fosse o trabalho da CPI, da imprensa e da pressão popular, o povo continuaria largado à própria sorte, sem vacina. “Essa CPI foi fundamental para a história do nosso país, foi capaz de catalisar a atenção a insatisfação da população, que estavam dispersas, e trouxe luzes sobre fatos acontecidos em toda a pandemia”, apontou o senador, para quem a CPI provou que Bolsonaro apostou na tese da imunidade da rebanho pela contaminação.

“Vamos à PGR (Procuradoria-Geral da República), Tribunal Penal Internacional de Haia, alto comissariado de direitos humanos da ONU, comissão inter-americana de direitos humanos e, acima de tudo, não vamos esquecer nem abandonar as vítimas da covid-19”, prometeu.