O primeiro disco do trio americano Stray Cats faz 40 anos. Um sopro de paixão e inocência no velho rock and roll. À frente da banda, Brian Setzer se revelou um dos grandes discípulos de Elvis e Carl Perkins

 

Quando a música pop estava virando uma instituição rabugenta e os deuses do rock, flácidos e moribundos, um trio redescobriu os prazeres e a inocência dos velhos tempos. Em 1981, os Stray Cats  — “gatos de rua” —, saíram da cena de Nova York para ganhar o mundo e surpreenderam a velha Inglaterra ao lançarem o disco homônimo, produzido pelo próprio trio e o grande Dave Edmunds.

O álbum é uma coleção de grandes hits, endiabrados, dançantes e absolutamente sensacionais. Os Stray Cats reinvocaram os áureos tempos e a simplicidade do rock, o espírito de festa e o descompromisso dos primeiros anos deste velho ritmo, que já tem 70 anos, mas é talvez o último grande gênero da música a se reinventar a cada 20 anos.

O disco jamais foi lançado nos Estados Unidos e contém canções clássicas como “Runaway Boys”, “Rock This Town” (No. 9) e “Stray Cat Strut” — uma pulsante e candente aula de walkin bass absoluto, pulsante, sensual e profundamente surpreendente, enquanto Setzer grita, como se fosse um gato Manda-Chuva: “Cantando o blues enquanto as gatas fêmeas choram/ ‘Gato de rua selvagem, você realmente é um cara que não se prende a ninguem’/ Eu queria poder ser tão livre de cuidados e selvagem/ Mas eu tenho classe de gato e eu tenho estilo de gato”.

O Hall da Fama do Rock posteriormente listou “Rock This Town” como uma das “500 músicas que deram forma ao Rock and Roll”. Os caras sabiam fazer você se chacoalhar: “Bem, eu e minha neném saímos sábado à noite/ Eu tava com meu cabelo penteado pra cima e minha gatinha tava bacana/ Baby, te pego às dez, tenho que te deixar em casa às duas/ Mamãe não sabe o que te espera. Tá tudo bem, porque estamos os mais bacanas possível/ Eu achei um lugarzinho nada mal/ Vou pegar um uísque com gelo e um trocado para o jukebox/ 25 centavos na máquina, mas só o que tocava era disco/ Vamos, gatinha, vamos dar o fora daqui”. Uma crônica sobre quem curte a vida.

O trio também sabia falar de problemas atuais. O álbum contém “Storm the Embassy”, sobre a crise de reféns na embaixada dos Estados Unidos em Teerã, no Irã, em 1970:  “Quinze homens capturados em uma terra estrangeira hostil/ Sol escaldante brilhando em quilômetros e quilômetros de areia/ Um país do Oriente Médio sendo governado/  Por um homem que pensa que é divertido/ Manter nosso povo de reféns/ Para um Xá que está em fuga… Acho engraçado/ Liberdade leva dinheiro/ É uma pena e azar/ Bem, isso é uma bela merda/ Cara, não é divertido/ Ataque a embaixada iraniana/ Antes que comecem a atirar em você e eu… Ei!”

O álbum é um tributo. Pense em qualquer um dos grandes da era de ouro — Elvis Presley, Fats Domino, Gene Vincent, Little Richard, Carl Perkins, Chuck Berry… Estão todos lá, em cada sulco do vinil e nas entranhas de Brian Setzer (guitarra e voz), Slim Jim Phantom (bateria) e Lee Rocker (baixo). Se você quer saber para que serve o rock, aqui está a resposta: para dançar.

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