Bastou uma semana após a rendição de Jair Bolsonaro costurada por Michel Temer para que a nau do governo, que já vinha à deriva, começasse a sofrer sucessivos revesses. Primeiro, os índices da economia continuam apontando o desastre da política adotada por Paulo Guedes sobre o país passados 2 anos e oito meses. A ruína social e os dados da economia mantêm o Palácio do Planalto navegando em águas turvas e tempestuosas.

A estagflação passou a assombrar Guedes e os engomadinhos da Faria Lima. Uma combinação fatal de paralisia da atividade econômica com inflação alta. A inflação dos últimos 12 meses, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está em 9,68, o Brasil vive grave quadro cambial, com dólar nas alturas, e há risco real de um novo apagão, o que não estimula ninguém a aumentar a produção.

Para piorar, o PIB do segundo trimestre recuou 0,1%, o terceiro pior resultado entre os países que formam o G-20, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A média mundial foi de 3% de crescimento. Para 2022, nem mesmo a equipe econômica arrisca confirmar em público a previsão otimista de Paulo Guedes de 2% de crescimento. O mercado aposta entre 0,3% e 0,5%. Isso em pleno ano eleitoral. No máximo 1%. Ou seja, passados cinco anos do golpe contra Dilma Rousseff, o país está pior e o voo de galinha é obra de Guedes. O desemprego aperta 15 milhões de brasileiros.

Daí o desespero de Bolsonaro, que sonha com um milagre para evitar a derrota nas eleições presidenciais de 2022. O problema é que a rejeição ao presidente não pára de subir. Em apenas nove meses, cresceu 21 pontos percentuais o repúdio ao capitão. Ele agora é rejeitado por 53% dos brasileiros, segundo o Datafolha. Em dezembro, eram 32%. A maioria anseia pela volta do verdadeiro timoneiro no comando do governo: o eterno presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o Datafolha, Datafolha: 59% dizem que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum, enquanto Lula tem 38% de rejeição.

O mercado ainda tenta encontrar um alento no sonho da terceira via — mas o fiasco da mobilização do domingo, dia 12, que só conseguiu juntar menos de 100 mil na Avenida Paulista — apesar da dança de João Dória e de Ciro Gomes bradando ao lado dos reaças do MBL — mostra que dificilmente Lula perde a eleição presidencial em outubro, com risco de liquidar a briga já no primeiro turno.

O fracasso de Bolsonaro em contornar a crise e entregar um país melhor do que recebeu das mãos de Michel Temer é inevitável. O Boletim Focus divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira, 13, revisou para baixo a estimativa para o PIB pela quinta semana seguida. O Itaú Unibanco reduziu sua expectativa de crescimento de 2022 de 1,5% para 0,5%. 

O desespero chegou a tal ponto que Bolsonaro descumpriu uma promessa: aumentou imposto. Na quinta-feira, 16, o presidente editou um decreto que determina o aumento do IOF como alternativa para financiar o novo Bolsa Família até o fim do ano. Guedes diz que a alta do IOF permitirá pagar um benefício do novo Bolsa Família no valor de R$ 300.

A criação do novo programa, batizado de Auxílio Brasil, tem a meta de aumentar de 14,6 milhões para 17 milhões o número de famílias atendidas pelo Bolsa Família. A manobra desagradou empresários e o mercado financeiro. Economistas batem duro: o aumento não só prejudica o consumidor quanto também as empresas e deve pressionar ainda mais a inflação.

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