Ministro acata decisão de Bolsonaro e suspende campanha de vacinação em adolescentes, quando o Brasil se aproxima da marca de 600 mil mortos na pandemia

 

Não adiantou tirar o Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde, porque o presidente Jair Bolsonaro continua a sabotar a Saúde pública, desrespeitando as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Na última semana, o médico Marcelo Queiroga, que substituiu o general no comando da Saúde, submeteu a campanha de vacinação contra a Covid aos caprichos do Palácio do Planalto. Ele retirou a recomendação para a vacinação de adolescentes sem comorbidade justamente quando o país se aproxima da marca histórica de 600 mil mortos na pandemia.

A decisão foi tomada por Bolsonaro sem consultar infectologistas e nem outros especialistas e acatada pelo ministro Marcelo Queiroga, que aceitou até mesmo mentir para encobrir que a medida se deveu à incompetência do governo. Após o Ministério da Saúde retirar a recomendação, Queiroga confirmou a jornalistas a influência de Bolsonaro na decisão. Omisso, ficou calado quando, na live semanal de quinta-feira transmitida pelas redes sociais, Bolsonaro mendiu que “a OMS é contra a vacinação entre 12 e 17 anos”.

A afirmação é uma mentira, conforme os conselhos de secretários estaduais de Saúde (Conass) e municipais (Conasems), que denunciaram a decisão política e não técnica, que compromete o controle do vírus. “Ao implementar unilateralmente decisões sem respaldo técnico e científico, coloca-se em risco a principal ação de controle da pandemia”, aponta nota.

Cientista da Fiocruz, Margareth Dalcomo deixou claro, em entrevista à CNN Brasil, que Bolsonaro e Queiroga mentiram. “De modo algum a OMS colocou em questão a segurança e a validade da vacina no grupo etário (adolescentes)”, disse. “Justificar (a decisão dizendo) que há efeitos adversos da vacina da Pfizer em adolescentes não corresponde à realidade”. A pesquisadora apontou ainda para a verdade: “Se está faltando vacina, nós temos que providenciar as vacinas no quantitativo necessário”.

A medida do ministério gerou uma imensa confusão. Como os estados não são obrigados a seguir as recomendações do Programa Nacional de Imunização, muitos mantiveram a vacinação, que já estava bem adiantada, em nova demonstração da incapacidade do governo federal de coordenar o combate à pandemia.

Ex-ministro da Saúde, o deputado Alexandre Padilha  (PT-SP) denuncia que o governo adotou a suspensão da vacinação entre jovens porque não há doses suficientes para o público-alvo: os idosos. “Graças à inércia desse desgoverno, o Brasil só tem a vacina da Pfizer para adolescentes”, lamentou. “Na prática, o que o ministério quer fazer — fingindo que é outra coisa — é pegar as vacinas que seriam para adolescentes e vacinar a população idosa. Em suma: bloqueou testes com coronavac, mas agora vai tirar de uma parte da população. Resumo: falta de planejamento, como sempre”.