A magia permanece
Trinta anos da morte do gênio Miles Davis, um dos ícones da música do século 20 e cuja obra continua influenciando gerações de músicos em todo o mundo. Uma lenda do jazz e do rock
Em setembro de 1991, uma falência múltipla dos órgãos emudece o trompete de Miles Davis. O músico e arranjador, nascido em 1926, no estado de Illinois, nos Estados Unidos, deixou um legado incomparável na música mundial e especialmente no jazz. Contemporâneo de vários artistas considerados virtuoses — Louis Armstrong, Duke Ellington, Count Basie, John Coltrane, Dizzi Gillespie, entre outros —, Miles conseguiu impor sua qualidade musical com singles memoráveis.
Aos 13 anos, o pai lhe dá um trompete e o leva a um músico de Saint Louis para ensiná-lo. Seu despertar para a carreira musical, no entanto, se deu quando assistiu a uma apresentação da banda de Billy Eckstine, que contava com a participação de Dizzie Gillespie e Charlie Parker, em 1944. Miles se apresentou em substituição a um dos instrumentistas da big band.
No início de 1945, Miles parte para Nova Iorque para tentar uma bolsa de estudos na Julliard School. Em vez de ir para a escola, como prometido à família, ele procura Charlie Parker e pede para entrar na banda. Como integrante, participa de várias gravações de Parker como uma espécie de coadjuvante, vindo a gravar o primeiro disco como protagonista só em 1947.
Na década de 1950, Miles Davis, aos 25 anos, começa a demonstrar seu virtuosismo. Daí em diante, sozinho ou acompanhado de outros músicos, emplaca um sucesso atrás do outro. Sucesso no estúdio e no palco. Lançou dezenas de obras ao vivo, onde buscava o limite da sonoridade — que, devido as condições técnicas de então, havia no entendimento de alguns músicos uma sensível distorção na sonorização entre gravação de estúdio e o ao vivo. Esse não era o entendimento dele.
Uma apresentação celebrada em um show ao vivo e que legou uma obra-prima, foi a parceria com John Coltrane, em 1955. Em seguida, cria o Miles Davis Quintet, composto pelo próprio Coltrane no sax tenor, Red Garland no piano, Paul Chambers no contrabaixo e Philly Joe Jones na bateria. É desse período o surgimento do álbum que é considerada a obra-prima de Davis e uma das mais importantes contribuições para a trajetória do jazz: “Kind of Blue”.
O álbum colocou Miles Davis como uma das lendas da música americana e mundial. Em seguida, vieram obras também consideradas magistrais como “My Funny Valentine”, “Four and More”, já com Bill Evans na nova formação do quinteto.
Em 1970, foi a estrela principal do famoso Festival da Ilha de Wight, na Inglaterra. Cercado de expectativas, já que o festival se notabiliza pelas apresentações de bandas de rock e pelo grande público composto em sua imensa maioria por jovens, o então quase cinquentão arrebatou o público e produziu uma das maiores apoteoses musicais na época. Considerado um sujeito de difícil trato, Miles sempre apoiou jovens talentos.
Passados 30 anos de seu desaparecimento, mantêm-se como um dos principais artistas do século 20 e das gerações futuras. Sua vasta obra, referência para músicos e estudiosos do mundo inteiro, continua provocando sensações e epifanias. Eternamente.