Salles deixou o MMA, mas não há nada a comemorar
A saída de Ricardo Salles pela porta dos fundos do Ministério do Meio Ambiente era um script já desenhado diante das denúncias gravíssimas envolvendo possíveis atos corruptos do agora ex-ministro. A tese que venho defendendo há meses em discursos e artigos sobre as relações espúrias de Salles e a gestão voltada a desestruturar os órgãos de fiscalização ambiental, a perseguição a servidores e a tentativa de atuar a favor de criminosos ambientais ficou evidenciada com a investigação da Polícia Federal.
É evidente que o campo progressista celebrou com justiça a fuga de Salles do governo, em função do seu compromisso com a sanha de avançar sobre a Amazônia, o Cerrado e as terras indígenas, bem como a proximidade ideológica com o extremismo de direita, que fizeram de Salles um dos ministros mais fortes do bolsonarismo. No entanto, é necessário registrar um alerta: a mudança de ministro não resolverá os problemas da política criminosa do MMA.
Joaquim Leite, sucessor nomeado por Bolsonaro para o ministério, compôs a gestão de Salles e endossou as estratégias dos últimos dois anos e meio de transformar o órgão de Estado em um instrumento contrário à agenda do meio ambiente. Apesar de ter participado da elaboração de projetos de preservação da floresta quando atuava na iniciativa privada, Leite não teria sido nomeado tão rapidamente em caráter definitivo se não tivesse aceitado dar seguimento ao projeto liderado por Bolsonaro e a bancada ruralista.
Salles nada mais era do que um eficiente mensageiro de criminosos ambientais que pretendiam deliberadamente legalizar todo tipo de prática danosa ao meio ambiente. Joaquim Leite talvez seja menos eficaz e insensível que seu antecessor, mas não deixará de estar servindo a esta visão de mundo nefasta.
Outra frente fundamental de resistência e combate do desmonte é o Congresso Nacional. Diante do enfraquecimento progressivo de Salles como interlocutor confiável, o parlamento, especialmente a Câmara dos Deputados, liderada por Arthur Lira (PP-AL), assumiu as rédeas da liberação da boiada e está atuando para completar a destruição que Salles começou, a partir de projetos como o que acaba com o licenciamento ambiental, o fim das demarcações de terras indígenas, a legalização da grilagem e o chamado Pacote do Veneno.
Portanto, é tempo de seguir lutando! A queda de Salles é só um passo, que pode representar o enfraquecimento da narrativa antiambiental. É preciso também derrotar o chefe de toda essa destruição ambiental sem precedentes que vivemos no Brasil: o presidente da República. Fora Bolsonaro!