Pesquisa do DataFolha para a Oxfam Brasil, divulgada em 29 de maio, revelou que 84% dos entrevistados concordam com o aumento dos impostos de pessoas muito ricas para financiar políticas sociais. Os números anteriores, de 2019, demonstram que o apoio era de 77%. A pesquisa apontou ainda que 94% dos entrevistados concordam que o imposto pago deve beneficiar os mais pobres.

Os mais ricos, pessoas com renda acima de cinco salários mínimos – R$ 5.500 –, são os menos favoráveis a essa medida: 35%, enquanto entre os que ganham até um salário mínimo, o apoio à medida sobe para 61%.

“A pandemia desnudou um dos aspectos mais cruéis das desigualdades no Brasil que é a estrutura tributária duplamente concentradora de renda e incapaz de enfrentar e superar a brutal assimetria em todas as faces da desigualdade”, comenta a ex-ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello.

“A pesquisa mostra que quase dobrou o número de brasileiros que concordam com o aumento dos impostos em geral para financiar políticas sociais. E 84% afirmam que este aumento deve incidir sobre os ricos”, avalia Tereza. “Só quem quer a manutenção desse modelo são os ricos”, lamenta.

Outro dado relevante da pesquisa é que 86% dos entrevistados creem que o progresso do Brasil está condicionado à redução de desigualdade entre pobres e ricos. Além disso, 85% concordam que é obrigação dos governos diminuir a diferença entre muito ricos e muito pobres, ante 84% em 2019.

Para a economista, os dados indicam que com a pandemia aumentou a parcela da população que compreende a importância do Estado na garantia dos direitos e da vida. “A iniciativa privada se revelou completamente incapaz de enfrentar a tragédia. É por isso que 73% defendem a universalização da saúde. Defendem o SUS como condição para redução das desigualdades em saúde”, aponta.

A pesquisa indica ainda que 62% apoiam a manutenção, após a pandemia, do auxílio emergencial para as pessoas que recebem atualmente o benefício. “Cresceu principalmente as bases de solidariedade entre os brasileiros com a compreensão de que as transferências de renda, como o Bolsa Família, são fundamentais não só em momentos de crise”, disse a ex-ministra. “É um avanço na luta contra o preconceito que atinge os pobres, que na sua imensa maioria é formada por negros e negras”, classifica. “Isso é a marca das desigualdades estruturais no Brasil”.

A pesquisa da Oxfam Brasil é divulgada quando o país atravessa uma das maiores crises sociais e econômicas de sua história. A taxa de pobreza subiu de 11% em 2019 para 16% no primeiro trimestre de 2021. Segundo a FGV Social, os brasileiros na miséria passaram de 24 milhões para 35 milhões.

Para esse levantamento, o DataFolha entrevistou 2.079 pessoas em pontos de fluxo populacional relevantes no país, entre 7 e 15 de dezembro de 2020. A margem de erro para a amostragem geral é de 2% para mais ou para menos.

 

O QUE DIZ A PESQUISA

 

Redução de desigualdades

86% creem que o progresso do Brasil está condicionado à redução de desigualdade entre pobres e ricos

85% concordam que é obrigação dos governos diminuir a diferença entre muito ricos e muito pobres, ante 84% em 2019

 

Transferência de renda

62% apoiam a manutenção, após a pandemia, do auxílio emergencial para as pessoas que têm direito hoje

 

Racismo estrutural

76% acreditam que a cor da pele influencia a contratação por empresas; em 2019, eram 72%

84% acreditam que a cor da pele influencia a decisão de uma abordagem policial; em 2019, eram 81%

78% concordam que a Justiça é mais dura com negros, ante 71% em 2019

 

Gênero e raça

67% concordam que o fato de ser mulher impacta a renda, ante 64% em 2019

58% concordam que negros ganham menos por serem negros, ante 52% em 2019

 

Saúde

62% dos brasileiros acreditam que “ter acesso à saúde” é uma das três principais prioridades para uma vida melhor, ao lado de “estudar” e “fé religiosa”

73% defendem universalidade para atendimento em postos de saúde e hospitais, ante 72% em 2019

9,5 é a nota média para Investimento público em saúde entre as medidas prioritárias para a redução de desigualdade

 

Otimismo

64% acreditam que estarão na “classe média” ou “classe média alta” em cinco anos; em 2019, eram 70% 64% não acreditam que as desigualdades diminuirão nos próximos anos; em 2019, eram 57%