Dizem que o uso do cachimbo faz a boca torta. E que o hábito faz o monge. Conheci um sujeito que passava as melhores horas da sua vida colegial e universitária aprendendo a jogar xadrez. Quando por fim saiu da universidade só andava dando três passos para a frente e um para o lado, como os cavalos do jogo. À mesa punha o prato não à frente, mas obliquamente afastado para a direita ou para a esquerda.

Dizem que o uso do cachimbo faz a boca torta. E que o hábito faz o monge. Conheci um sujeito que passava as melhores horas da sua vida colegial e universitária aprendendo a jogar xadrez. Quando por fim saiu da universidade só andava dando três passos para a frente e um para o lado, como os cavalos do jogo. À mesa punha o prato não à frente, mas obliquamente afastado para a direita ou para a esquerda.

 

Durante meses um amigo meu ficou trabalhando num questionário que iria ser utilizado numa pesquisa sociológica. Depois disso não era mais capaz de conversar fluentemente. “O senhor pretende tomar um cafezinho? Sim? Não? Não sabe?”. Ou, “A senhora me ama? Muito? Pouco? Quase nada? Nada? Prefere não responder? Ainda não formou opinião a respeito?”. Ou senão: “Você quer jantar em casa hoje à noite? Sim? Não? Em caso de resposta afirmativa, entre oito e oito e quinze? Entre oito e quinze e oito e meia? Entre oito e meia e oito e quarenta e cinco? Entre oito e quarenta e cinco e nove horas? outro?”.

Um fotógrafo profissional, meu conhecido, passara tantos anos tirando fotografias posadas que, quando um amigo lhe apresentava a esposa não dizia: “Muito prazer”. Dizia: “Um pouco mais para o lado, por favor. Assim. Sorria”.

Também conheci um sujeito que trabalhou vários anos na elaboração de uma enciclopédia. Se lhe perguntavam se conhecia Fulano, onde ficava a rua tal, se já ouvira falar de tal coisa, respondia: “Mil novecentos e vinte e sete, março, três. Nasceu em Piracicaba, onde fez os estudos elementares, vindo depois para a Capital, a fim de cursar a Escola Politécnica. Teve carreira brilhante como engenheiro. Ainda jovem é autor de vários projetos”. Ou senão: “Manchil, substantivo masculino. Cutelo de carniceiro; (antigo) foice, arma de guerra”.

Conheço uma mocinha que tem uma adoração psicopática pela psicanálise. Quando alguém lhe diz “bom dia” ela franze a testa e se pergunta: “O que ele estará querendo dizer?”.

Há os que desenvolvem certos hábitos profissionais dos quais dificilmente conseguem se livrar. Conheço um sujeito que trabalha no setor de relações públicas de uma grande empresa. Ele é incapaz de conversar sobre qualquer assunto sem tentar convencer o interlocutor de que o tema da conversa é o assunto mais importante do momento. E vai mais longe: não só o tema é muito importante, como a maneira que ele tem de o encarar é a única maneira correta. Um locutor de rádio que conheci dá sempre três batidas na mesa quando, durante uma palestra, tem de mudar de um assunto para outro.

Como Sancho Pança, que se exprimia por brocardos, há vários jornalistas que só sabem falar com a ajuda de clichês de imprensa. “O polvo canadense”. “As forças vivas da Nação”. “Pôs termo à existência ingerindo forte dose de formicida”. “Acometido de mal súbito veio a falecer”. “Estavam presentes as figuras mais representativas da nossa sociedade”. “Aniversaria hoje a gentil senhorita”. E assim por diante.

Eu não. Eu procuro ser original e ter um estilo próprio, porque o estilo é o homem.

 

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