Beatriz Tibiriçá (Beá)
Mais tarde, aprendi que o meu amigo Carlito Maia tinha me dado de presente toda esta curtição. A Jovem Guarda era uma das boas carlitices que foram marcando a minha vida.
Mais tarde, aprendi que o meu amigo Carlito Maia tinha me dado de presente toda esta curtição. A Jovem Guarda era uma das boas carlitices que foram marcando a minha vida.
Carlito:
As carlitices entraram na minha vida muito antes do próprio Carlito.
Eu ainda era menina (não que eu tenha deixado de ser…) e gastava boa parte de meus devaneios com a turma da Jovem Guarda. Numa família de economias curtas, mas muito carinho, os trocados foram juntados para que a caçula pudesse ganhar uma vitrola portátil para ouvir seus compactos, uma mini-saia e uma jaqueta de courvin, incrementadíssima da marca Calhambeque. Mais tarde, aprendi que o meu amigo Carlito Maia tinha me dado de presente toda esta curtição. A Jovem Guarda era uma das boas carlitices que foram marcando a minha vida.
Já tinha ouvido falar do talento do Carlito por um tio, sério contador, auditor, com quem o Carlito trabalhou em tempos de boemia lascada. Ou ainda, pela pessoal do Studio 13, onde a noiva do meu irmão trabalhava. Mas, ainda não conhecia o Carlitinho.
Dando um salto no tempo, chegamos as tertúlias pelas mesas da vida, onde os artistas da vida, os de coração e os de profissão, se juntavam, noite a dentro, para falar da vida, da política, dos impactos da conjuntura, e arquitetar novas formas de enfrentar os dissabores coletivos. Nós falávamos e o Carlito escrevia, escrevia. Sentado, sempre na ponta da nossa mesa, com uma caneta hidrográfica de ponta grossa preta e outra vermelha, uma pilha de jornais do dia que estava por amanhecer, que o garçom tinha ido comprar, e outra pilha de papeizinhos de recado, ia soltando, freneticamente, pequenos poemas concretos e grandes idéias de resistência criativa.
Foi dessas mesas, onde o Carlito inventava de tudo, que surgiu o Amigo Público nº 1 e o Pintou Limpeza da simpática campanha do Suplicy vereador. Foi nessas mesas que aprendemos que o sangue do PT corria em suas vigorosas veias. O PT sangue bom, o PT contra a ditadura, o PT com que o Carlito brandia seu ódio contra as injustiças.
Mesmo que muita gente não saiba, o Carlitinho “confiou em você” como dizia seu carimbo nas inúmeras e gentis mensagens com que ele nos brindava nas datas cívicas de nossas vidas. Numa que tenho guardada, do Natal de 1990, Carlito acrescentou à sua assinatura o seguinte poema de Antonin Artaud:
PARTO À PROCURA DO IMPOSSÍVEL. VAMOS VER SE O ENCONTRO.
Carlito Maia certamente o encontrou. Espero que nós, aqui neste mundo terreno, façamos justiça a seus sonhos.
Valeu, Carlito!