Pontos históricos da opressão do povo palestino

Outubro, 2023

O mito da “terra prometida” e o anti-semitismo

O principal mito da propaganda sionista é que, com a constituição do Estado de Israel em 1948, o “retorno” dos judeus à sua antiga terra foi consagrado após a sua expulsão pelos romanos, a destruição do Segundo Templo e as centenas de anos da “diáspora”. Segundo este mito, o Israel dos tempos antigos, aquele que viu nascer a religião judaica, teria a sua continuidade no Israel dos dias de hoje. Os palestinos seriam ocupantes que vieram após a expulsão dos judeus. A verdade é que os palestinos de hoje são esmagadoramente descendentes dos antigos israelitas.

Com a conquista muçulmana do século VII, a população local não foi expulsa, mas gradualmente “arabizada”, adotando em grande parte a língua árabe, bem como a cultura e religião muçulmanas. Durante séculos, judeus e cristãos viveram de forma relativamente pacífica com a maioria muçulmana sob os diversos regimes que governaram o local (os califados, os reinos cruzados, os seljúcidas, os turcos otomanos, etc.)

É verdade que uma parte da população judaica foi sistematicamente expulsa e perseguida ao longo dos séculos com as sucessivas conquistas dos Persas, Romanos, Árabes, etc. Eles formaram comunidades que se estabeleceram em vários lugares do mundo. Na Europa, em particular, sofreram durante séculos perseguições e discriminações ferozes por parte dos cristãos. Naquela época, grupos de vários lugares também adotaram a religião, tornando o povo judeu perseguido muito mais diversificado; já que não eram todos descendentes daqueles expulsos da atual Palestina.

A discriminação e a perseguição (insistimos, especialmente a cristã) empurraram os judeus para as margens das sociedades, que sobreviveram como comunidades relativamente fechadas e segregadas. Da Europa medieval vem o mito anti-semita do “judeu usurário”: como muitas autoridades cristãs os proibiram da maioria das atividades econômicas, como o trabalho da terra, foram forçados a sobreviver com o comércio, que era realizado às margens da sociedade da época.
A perseguição anti-semita foi primeiro religiosa, depois nacional e, finalmente, racista. Com a modernização capitalista, em alguns países foi atenuada, mas em outros permaneceu terrível. O czarismo, em particular, era ferozmente antissemita.

No século XIX, com o surgimento das correntes democráticas e socialistas, surgiram também várias correntes que deram respostas diferentes sobre como emancipar o povo judeu. Majoritariamente, eles simplesmente queriam poder viver em paz, com direitos civis iguais aos de todas as outras pessoas. O socialismo também teve muita influência entre os trabalhadores judeus. Algumas de suas principais figuras históricas eram de origem judaica; entre eles ninguém menos que Karl Marx, Rosa Luxemburgo e León Trotsky.

O surgimento do sionismo

Foi nessa época que surgiu uma nova corrente ideológica e política: o sionismo. Seu programa era o da constituição de um Estado Judeu na Palestina. O conflito em terras palestinas não é antigo, não é religioso, o conflito moderno começa com o sionismo político no final do século XIX. A sua ideologia nacionalista judaica não é antiga, faz parte do nacionalismo moderno, que procurou reivindicar o território palestino como “deles” com base em textos bíblicos. A narrativa deles era que durante séculos os judeus queriam retornar à “sua” terra. Ao longo da Idade Média, os judeus gozaram de uma posição infinitamente melhor nas áreas islâmicas do que nas áreas cristãs.

O jornalista húngaro Theodor Herzl, conhecido como “Pai do Estado de Israel”, fundou a Organização Sionista. A sua política era muito, muito diferente da maioria das organizações judaicas europeias. Ele não pretendia lutar pelos direitos dos judeus contra o antissemitismo. Eles consideravam a segregação um fato consumado. A sua orientação era procurar um patrocinador entre as potências imperialistas, fazendo lobby junto dos monarcas da Europa para obter o seu apoio na reivindicação de soberania sobre uma terra onde nunca tinham pisado. Assim, Herzl, como parte desta política, chegou a encontrar-se, inclusive, com o Kaiser Guilherme II, um antissemita convicto. Mas seria junto ao maior império da época que o sionismo finalmente ganhou o apoio que procurava: o Império Britânico.

Mas o sionismo tinha dois grandes problemas: primeiro, as massas judaicas não eram sionistas; Em segundo lugar, o território que reivindicavam não estava nas mãos dos britânicos, mas nas mãos do Império Otomano. Mas algo muda fundamentalmente com a Primeira Guerra Mundial: os otomanos estão do lado perdedor e perdem a maior parte do seu antigo império, incluindo a Palestina.

O Mandato Britânico foi estabelecido na área, o que começou a impulsionar as primeiras ondas migratórias de judeus no início do século XX. As populações judaicas locais que viveram lá durante séculos não tiveram absolutamente nada a ver com isso. Com a proteção do imperialismo inglês, ocorreram as primeiras expulsões de palestinos de suas terras nas mãos dos ocupantes vindos da Europa. Contudo, o sionismo ainda era muito minoritário: a maioria dos judeus que migraram para escapar do antissemitismo foram para os Estados Unidos, sem expulsar ninguém, sem tomar conta da casa de ninguém.

Na década de 1920, com proteção inglesa, foi criada a Haganá, uma organização paramilitar que mais tarde foi a base do novo exército israelense.

Eis que ocorre então o grande ponto de inflexão: os horrores do nazismo e do Holocausto. Lutar pelos seus direitos como vinham fazendo há séculos parecia impossível, fugir era tudo o que podia ser feito. Já com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o atual porta-estandarte de Israel, o país que o armou até aos dentes, os Estados Unidos, a certa altura recusou-se a continuar a receber refugiados judeus da Europa. Muitas vezes foram devolvidos às garras dos nazistas.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o sionismo aliou-se à principal potência vitoriosa, que continua até hoje a ser o seu principal patrocinador: o imperialismo ianque. Em 1947, com o ímpeto dos Estados Unidos e a cumplicidade da URSS estalinista, a ONU votou a divisão da Palestina e a formação de um Estado Judeu.

A “independência” de Israel e o terror contra o povo palestino

Em 14 de maio de 1948, a “Agência Judaica” liderada por Ben-Gurion, proclama a “independência” de Israel, criando nesse ato o Estado Sionista. O dia 15 de maio de 1948 é relembrado pelos palestinos como o Nakba, o “dia da catástrofe”. O programa do sionismo era “uma terra sem povo para um povo sem terra”. O problema é que a “terra sem povo” tinha um povo: os palestinos. Então, se não houvesse “terra sem gente” ela tinha que ser criada. O sionismo lança então uma campanha de terror contra o povo palestino. Os massacres seguiram-se um após o outro nas mãos da Haganá ou de grupos terroristas como o Irgun. Um exemplo: o grupo terrorista Leji executou o massacre de Deir Yassin juntamente com o Irgun, matando 120 palestinos. Lekhin negociou em 1941 com o Terceiro Reich a expulsão dos judeus da Europa para a Palestina, como parte da sua promoção do projeto sionista, o resultado, neste momento, é a expulsão de pelo menso 750mil palestinos.

O Estado de Israel é criado sobre uma base colonialista, racista e de apartheid. A propaganda imperialista apresenta-a como “a única democracia no Médio Oriente”, mas os fatos são os fatos. A formação do “Estado Judeu” ocorre com base na privação de todos os direitos da população nativa. Aqueles que não são expulsos são confinados em verdadeiros bantustões, como eram chamados os bairros negros da África do Sul durante a segregação racial do Apartheid.

Em 1948, eclodiu a guerra árabe-israelense, que terminou com uma esmagadora vitória sionista sobre os países vizinhos. A sua superioridade militar já era imensa: 60 mil combatentes com apoio da Europa, da URSS e dos Estados Unidos contra 25 mil árabes.

A OLP e primeira Intifada

Nos anos que se seguiram, foi formada a Organização para a Libertação da Palestina. Foi uma aliança secular e combativa entre organizações do nacionalismo burguês, do “socialismo árabe” e da influência marxista. O seu programa era “democrática radical”: uma Palestina única, secular e livre. O programa de uma Palestina “única” era a formação de um Estado secular, sem discriminação religiosa ou étnica, no qual pudessem viver tanto palestinianos como judeus. É claro que Israel se opôs e perseguiu ferozmente esse movimento, principalmente de esquerda.

Em 1967 ocorreu a chamada Guerra dos Seis Dias, que culminou com uma nova vitória de Israel. É com essa guerra que o Estado Sionista praticamente se funde com o imperialismo ianque e se integra no seu complexo militar-industrial. Os palestinos são novamente expulsos em massa. Muitos refugiam-se nos países árabes vizinhos. Outros são finalmente empurrados para as duas pequenas áreas hoje conhecidas como “território palestino”: Gaza e Cisjordânia.

Nas décadas que se seguiram, a OLP recua em algumas de suas posições. Abandona o seu programa democrático radical de uma Palestina única e não racista e começa a negociar com o sionismo um “Estado Palestino”, reconhecendo o Estado racista de Israel.

Em 1987, logo após um caminhão militar israelense atropelar e matar quatro jovens palestinos, civis palestinos, em sua maioria jovens e estudantes dão incio a “Rebelião da Pedra”, a Primeira Intifada. Com apenas pedras nas mãos, o povo palestiniano reage a décadas de segregação e opressão contra um dos exércitos mais poderosos do mundo. Israel lançou uma repressão em áreas ocupadas para sufocar a revolta. Em resposta as forças israelenses impuseram toques de recolher e fizeram uso de espancamentos, tortura e prisões em massa, exacerbando o conflito. A rebelião popular é tão profunda que consegue até dividir a sociedade israelita e ganha a simpatia de muitos judeus.

Os acordos de Oslo

Em 1993 a OLP, sob a liderança de Yasser Arafat, com a intermediação de Bill Clinton, então presidente dos EUA, assina com Israel os chamados “Acordos de Oslo” .

De forma sucinta os acordos estabelecem por parte da OLP a obrigação de: a) o abandonar a luta armada; b) reconhecer o Estado de Israel e c) a aceitar as resoluções internacionais; em contrapartida cabe ao Estado de Israel a) reconhecer o estabelecimento da Autoridade Nacional Palestina – ANP, um Estado com poderes limitadíssimos comandado, inicialmente. pela OLP nos territórios de Gaza e da Cisjordânia e b) desocupar territórios palestinos e interromper a ocupação ilegal/expansão de colônias israelenses sob territórios palestinos.

Na prática, porém, o acordo revela-se um enorme fracasso, mesmo com a ANP cumprindo sua parte no acordo, não tem outro poder senão o de ser a polícia dos palestinos nos bantustões. Já Israel jamais chega a cumprir os pontos principais do acordo, a política de segregação não só continua, mas continua a aprofundar-se. Na Cisjordânia, novos colonos israelenses avançam sobre o território palestino, expulsando a sua população, massacrando-a, roubando-lhes as casas. Em suma o Estado de Israel continua agindo dentro dos territórios palestinos como se na prática fossem terras israelenses, impondo sua ações, muitas delas consideradas crimes perante o direito internacional e com graves violações aos direitos humanos, ações pelas quais já foram condenados inúmeras vezes pela ONU. A Internet é uma boa testemunha. Há até vídeos de pessoas nascidas em Nova Jersey ou na Califórnia roubando casas palestinas impunemente. Sendo judeus, eles têm direitos de cidadania israelense apesar de não terem nascido lá, enquanto as famílias muçulmanas com centenas de anos no local não podem reivindicar nada. O mesmo acontece em Jerusalém Oriental: bairros muçulmanos são sistematicamente destruídos, despejados, para impor novos habitantes.

Com o fracasso dos acordos de Oslo, é fato que a OLP perde peso e legitimidade. Já não luta contra o Estado de Israel, dedica-se a administrar a miséria, cada vez pior, numa terra sitiada. É então que começa a crescer uma nova organização e ideologia: o islamismo. Em 1987 foi fundado o Hamas, que já não tinha o programa de uma Palestina secular, mas sim um programa muito diferente, o de um Estado Islâmico. O Islamismo é então uma corrente política que cresce com o declínio do nacionalismo burguês árabe e as derrotas da esquerda. No ano 2000, a Segunda Intifada ocorreu nestas condições, não com métodos de rebelião popular, mas com uma onda de ataques suicidas.

O contexto recente

Ao longo dos anos, mesmo após os Acordos de Oslo, o Estado de Israel mantém uma política de apartheid com relação ao povo palestino, fato reconhecido por entidades como Anistia Internacional, Human Rights Watch, Centro Al Mezan Para os Direitos Humanos, Al-Haq, B’Tselem, além de lideres internacionais e inclusive israelenses.

De acordo com B’Tselem (organização não governamental israelense) “vigora um regime supremacista judaico “do Rio Jordão ao Mediterrâneo”. Um regime de apartheid “usa leis, práticas e violência organizada para cimentar a supremacia de um grupo sobre outro”, sendo um método crucial projetar os espaços de modo distinto, dividindo e separando os subalternizados para governá-los. Nessa linha, o Estado israelense busca consumar a dominação judaica em todo o território, dividindo-o em várias unidades, cada qual com status distinto e um conjunto específico de direitos negados ou assegurados aos palestinos, sempre inferiores àqueles gozados pelos judeus. Se para estes a área habitada é indiferente, pois é contínua e estão integrados como cidadãos, para os palestinos o território constitui um “mosaico fragmentado”, sendo este um aspecto fundamental. A situação piora, progressivamente, quando se compara os palestinos com cidadania israelense com aqueles vivendo em Jerusalém Oriental, no restante da Cisjordânia e em Gaza, onde a negação de direitos é mais pronunciada. Em cada uma dessas partes a supremacia judaica é implementada de modo distinto, resultando em distintas violações. Esse regime de apartheid não nasceu do dia para a noite, sendo “processo que, gradativamente, tornou-se mais institucionalizado e explícito”, com mecanismos introduzidos de forma contínua e cumulativa, difundindo-se nas leis e práticas e contando com respaldo público e judicial. Há tanto diferenças como “reminiscências do regime sul-africano, que buscava preservar a supremacia dos cidadãos brancos, em parte dividindo a população em grupos e subgrupos e garantindo distintos direitos para cada”

Em 2006, o Hamas vence as eleições em Gaza, produto do declínio e da absoluta falta de legitimidade da OLP. A Cisjordânia continua controlada pela ANP. Desde 2007, Israel mantém o seu duro bloqueio contra Gaza. Cercada por cercas e muros, é conhecida como a maior prisão a céu aberto do mundo. O Estado de Israel controla todas as conexões terrestres, aéreas e marítimas da Faixa de Gaza com o mundo, impondo bloqueios, inclusive de ajuda humanitária e muitas vezes interrompendo, de forma criminosa, o fornecimento de água e energia elétrica à toda a população como forma de “punição”.

A Cisjordânia continua a ser assediada por ocupações, expulsões e pogroms sistemáticos. A recente incursão do Hamas, com todas as suas consequências, é a resposta mais recente à opressão dura e sem fim. O que mais se poderia esperar quando um povo é sistematicamente violado, segregado, bombardeado, assassinado e expulso? Mesmo com as políticas e métodos dos grupos islâmicos, que não são os nossos como socialistas revolucionários e são tão diferentes de rebeliões populares como a Primeira Intifada de 1988 , a responsabilidade cabe ao governo racista e de extrema-direita de Netanyahu, que prepara um novo massacre, continuando a sua política de limpeza étnica. A história do povo palestiniano é de resistência à dura opressão e ainda está a ser escrita.

Com informações de artigo no IzquierdaWeb

Partidos

OLP - Organização para a Libertação da Palestina

OLP - Organização para a Libertação da Palestina

Movimento de Libertação Nacional Palestina/Fatah

Frente Popular para a Libertação da Palestina

Partido da União Democrática Palestina

Partido Popular Palestino

Vanguardas da Organização da Guerra de Libertação Popular

Frente de Libertação Árabe

Frente de Libertação da Palestina

Frente de Luta Popular Palestina

Frente Popular para a Libertação da Palestina - Comando Geral Frente Árabe Palestin

Frente Democrática para a Libertação da Palestina (Jornal al-Hourriah)

Não fazem parte da OLP - Hamas