
O que a Folha entende por democracia?
O PT é o partido mais democrático do Brasil. Nenhum outro tem uma discussão tão viva sobre todos os temas, incluindo a Venezuela; tem 300 mil pessoas indo votar para eleger o presidente do Partido após intensos debates, ou realiza tantas reuniões e agendas formativas (que poderiam ser mais).
O que o texto da autoria de Lygia Maria e publicado na Folha defende não é a democracia, é o imperialismo. O que ataca no PT não é a falta de democracia no Partido, é a posição anti-imperialista do PT. Só que é difícil dizer isso assim: “O PT deveria seguir os EUA e defender agressões sobre a Venezuela, incluindo sanções que mataram milhares e uma intervenção militar como pede Maria Corina.”
É mais fácil seguir a velha cartilha dos “neocons” dos EUA: “Somos iluminados que sabemos o que é a democracia e vamos impô-la, sem diálogo, ao resto do mundo.” E, assim, as intervenções mortíferas dos EUA são pintadas em revoluções coloridas ou com a bandeira da democracia — mesmo que o objetivo seja controlar um recurso estratégico como o petróleo venezuelano.
Na Venezuela, Maria Corina Machado segue livre, apesar de ter tentado dar vários golpes de Estado, de ter ajudado a desenhar sanções contra o seu próprio povo e de hoje clamar por uma guerra. Não importa. Os megafones da imprensa alinhada aos interesses dos EUA repetem: “Maduro é um ditador, existe necessidade de derrubá-lo a partir de fora, e qualquer questionamento é traição à democracia.” Lembra a guerra do Iraque.
Também não importa que, ao mesmo tempo, os EUA sejam aliados de países com monarquias absolutistas como a Arábia Saudita ou do regime de Bukele em El Salvador, para onde o presidente Trump enviou imigrantes para serem tratados como terroristas em prisões degradantes. A única coisa que importa é seguir a corrente já definida: é a Venezuela que interessa.
É a Venezuela que interessa — ou seja, é do interesse da potência dominante. Não é de democracia que se trata.
Pedro Prola é coordenador do núcleo do PT em Lisboa (Portugal).