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O cessar-fogo entre Hamas e Israel não trouxe paz a Gaza. Com milhares de mortos, infraestrutura destruída e uma crise humanitária, o mundo assiste em silêncio à tragédia de um povo

Gaza, um pedaço de terra cercado por muros físicos e ideológicos, vive mais um episódio de sua interminável tragédia. O tão celebrado cessar-fogo entre Hamas e Israel trouxe manchetes otimistas para líderes mundiais, mas para quem vive em Gaza, o acordo é uma pausa para contar os mortos e reunir os pedaços do que um dia foi chamado de lar.

Desde 7 de outubro de 2023, mais de 45 mil palestinos foram mortos, segundo a Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL). Entre eles, milhares de crianças, cujas únicas armas eram livros escolares que hoje jazem sob escombros. E o mundo? Aplaude de longe os “avanços diplomáticos”, enquanto Gaza é deixada para morrer em silêncio.

Uma terra de escombros e sobreviventes

A destruição em Gaza é quase total. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), 92% das habitações em Gaza foram afetadas. Cerca de 436.000 residências – representando 92% do total em Gaza – sofreram danos, com 160.000 completamente destruídas e 276.000 severamente ou parcialmente danificadas, conforme relatado pelo OCHA.* Dos 36 hospitais da região, 27 estão fora de operação, transformando doenças simples em sentenças de morte. Escolas? Pelo menos 167 foram bombardeadas, jogando um futuro inteiro na lata do lixo.

E não, não é apenas a infraestrutura que foi atingida. É o espírito de um povo. Gaza não tem água potável suficiente, comida é artigo de luxo e saneamento básico parece uma piada de mau gosto. Em hospitais improvisados, cesarianas são feitas sem anestesia e crianças nascem sob a sombra da destruição, enquanto o mundo assiste calado.

Cessar-fogo: pausa ou pretexto?

A troca de reféns trouxe alívio para poucos. Três israelenses foram libertados, junto com 95 palestinos, muitos deles presos sem julgamento. Mas, enquanto os holofotes focam nessas trocas, ninguém parece lembrar que Gaza precisa de mais do que isso. Precisa de dignidade, de paz real e de um mundo que se importe mais com pessoas do que com acordos que só perpetuam o ciclo de violência.

reconstrução não é só física; é psicológica e humana. Mas como se reerguer quando tudo ao redor – do solo aos sonhos – foi pulverizado?

Human Rights Watch e Anistia Internacional já classificaram a situação como um colapso humanitário, apontando violações sistemáticas de direitos humanos. Mas as palavras de especialistas não parecem suficientes para deter um sistema que trata Gaza como um problema a ser “administrado”, e não resolvido.

Até quando?

Gaza é o espelho da nossa falência moral coletiva. É o símbolo de um mundo que escolhe ignorar o sofrimento, desde que ele esteja distante o suficiente para não atrapalhar o jantar.CoEnquanto políticos discursam e organizações internacionais emitem notas, o povo de Gaza vive – ou tenta viver – sem água, sem comida e sem futuro. Porque no final, não são números que morrem; são pessoas. E cada bomba que cai sobre Gaza explode um pouco mais da humanidade de todos nós.

*Correção: Originalmente o publicamos que: “Mais de 8 mil casas foram demolidas, deixando dezenas de milhares de pessoas sem abrigo”. No entanto, a OCHA, em seu relatório sobre a situação atual em Gaza, apresentou números muito mais alarmantes, indicando que a região está praticamente inabitável.