Aventuras do PT na China (parte 4)
É comum encontrarmos, em textos acadêmicos ou jornalísticos, a referência a um misterioso deep state (“Estado profundo”) que suposta ou efetivamente determinaria os rumos da grande política dos Estados Unidos.
Mas não há dúvida alguma sobre quem é o núcleo do poder na China: o Partido Comunista, fundado em 1921 e no poder desde 1949.
Formalmente, a China é parlamentarista. O povo elege parlamentares, que reúnem-se numa Assembleia do Povo, que escolhe as principais autoridades do País: a cúpula do judiciário, do legislativo, do executivo e, também, quem dirige as forças armadas.
Acontece que os parlamentares são eleitos com base em listas propostas pelo Partido. E as autoridades eleitas são indicadas com base em nominatas aprovadas, previamente, pelo Partido. A quem cabe, também, debater previamente as grandes diretrizes políticas e supervisionar sua implementação.
Para os padrões vigentes nos Estados Unidos, trata-se de uma ditadura partidária.
Para os padrões adotados pelos comunistas chineses, trata-se de um tipo de democracia diferente e superior a vigente, por exemplo, nos Estados Unidos.
Segundo Xie Chuntao, pró-reitor da Escola Central do Partido, nos Estados Unidos prevalece quem tem dinheiro: “nosso sistema é mais democrático que Trump”.
Na institucionalidade política chinesa, o centro do poder é o Partido, o centro do Partido é o comitê central, o centro do comitê central é o birô político, o centro do birô político é uma comissão permanente integrada, hoje, por 7 pessoas. E no centro desta comissão permanente, está o secretário-geral, função exercida desde 2012 por Xi Jinping.
Outro dos sete integrantes da comissão permanente é Li Xi. O senhor Li (na China, o primeiro nome é o da família, o segundo nome é o da pessoa) esteve no Brasil em 2023, tendo visitado a sede nacional do PT em Brasília. E foi o mesmo senhor Li que recebeu, numa reunião realizada no Grande Salão do Povo, a delegação do Partido dos Trabalhadores, encabeçada pela presidenta Gleisi Hoffmann.
Li Xi é “secretário da comissão de inspeção disciplinar do Comitê Central do PCCh”. É ele quem encabeça, portanto, a luta contra a corrupção. Para os comunistas chineses, não se trata de um detalhe. Para um partido cujo lema é “servir ao povo”, não basta parecer honesto, é preciso ser honesto.
Por este motivo, é comum que altos dirigentes do Partido sejam investigados, condenados e presos, por conta de diversos delitos, com destaque para a corrupção. Tarefa que cabe ao sistema legal do Estado chinês, mas que no caso dos integrantes do Partido é supervisionado e implementando pela “inspeção disciplinar”.
Ou seja: mesmo num Estado dirigido pelo Partido, o Partido faz questão de exercer diretamente este trabalho. Um dos motivos disto é impedir que os “donos do poder” usem-no para burlar as leis e escapar das investigações. Outro motivo é dar o exemplo político de que são capazes de permanente autocrítica e capacidade de renovação, algo que o senhor Li Xi chegou a chamar de “auto-revolução”.
Li enfatizou, ainda, que cabe ao povo fazer a “inspeção do governo”.
Como sabemos, seja pela nossa própria experiência no Brasil, seja pelo estudo de outras experiências históricas, há sempre uma distância entre a teoria e a prática. Assim, como disse o próprio Mao Zedong, é preciso investigar criteriosamente a realidade, estudar, pesquisar.
Mas uma coisa pode ser dita: os comunistas chineses estão muito seguros de que, sem esta democracia-com-características-chinesas, a República Popular da China não teria derrotado o feudalismo, o colonialismo e o imperialismo, nem teria melhorado a vida do povo chinês, tampouco teria conseguido um desenvolvimento tão intenso e veloz.
E, no centro da democracia-com-características-chinesas, está o Partido Comunista, cuja história centenário é contada em detalhes em um Museu inaugurado em 2021. A visita a este Museu será contada na próxima parte deste relato.
Mais informações sobre a visita do PT à China, leiam AQUI a parte 5 deste texto.