Um país com futuro. Era assim o Brasil dos dez anos que antecederam o Golpe Militar de 31 de março de 1964. Embora o início desse período tenha sido marcado pelo suicídio do então presidente Getúlio Vargas e toda a instabilidade política que se seguiu a esse episódio, com a eleição de Juscelino Kubitschek em 1955 o país entrou numa era de desenvolvimento econômico e social sem precedentes. 

Nunca antes na história do Brasil o impulso à industrialização havia sido levado tão a sério. Os “50 anos em 5 de Juscelino” incluíram a construção de uma nova capital, no coração do Brasil. Inaugurada em 21 de abril de 1960, o projeto dos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa tornou-se referência global de funcionalidade e beleza. 

Casas do Plano Piloto em Brasília

Agora que país era esse entre 1954 e 1964? Ainda muito desigual, por certo,  mas que se urbanizava rapidamente. Apesar disso, a  mortalidade infantil e o analfabetismo eram ainda muito elevados, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Diante dessa contradição, os movimentos sociais do período lutavam para atacar problemas ainda antigos da desigualdade brasileira. Operários, camponeses e estudantes se organizavam para que o desenvolvimento econômico também se traduzisse em justiça social.

Isso marcou muito profundamente também os movimentos artísticos e culturais –e muitos deles, voltaram-se para entender e amplificar aquilo que o povo brasileiro costuma fazer que é se mover para criar arte, beleza e cultura. Veja a seguir dez acontecimentos nas áreas da cultura , da arte e da expressão popular que ajudam a conhecer esse período da nossa história.

DEZ ANOS EM DEZ TÓPICOS

OS ANOS JK: UMA TRAJETÓRIA POLÍTICA – O documentário de dirigido por Silvio Tendler de 1980 é narrado por Othon Bastos e traz entrevistas com políticos que conviveram com Juscelino, como Tancredo Neves, Renato Archer, Magalhães Pinto e Henrique Teixeira Lott. Está disponível na íntregra no Youtube.

BRASÍLIA – A cidade-monumento teve sua construção muito bem fotografada por Marcel Gautherot, fotógrafo francês nascido em 1910 que se instalou no Brasil na década de 1940. Além de ter registrado o passo-a-passo da construção da nova capital, Gautherot também circulou pelo Brasil, fotografando de carrancas nas embracações no rio São Francisco a pescadores na Ilha Mexiana (em Chaves, Pará). O Instituto Moreira Salles tem uma página na internet dedicada ao fotógrafo, que você pode ver clicando aqui.

CHEGA DE SAUDADE – O LP de João Gilberto, que apresentava a Bossa Nova, foi lançado em 1959. O baiano João Gilberto inventou uma nova batida de samba, ao violão, e com o parceiro Tom Jobim, lançou as bases de uma revolução musical. “Chega de Saudade”, a canção que dá nome ao disco merece ser escutada com a maior atenção (clique aqui para rever a letra).

CULTURA POPULAR — Intelectuais, artistas e universitários progressistas ( e mesmo de esquerda) passaram a se preocupar com a educação dos mais pobres; tanto no sentido mais concreto ( é nesse período que Paulo Freire organiza seu método de alfabetização), como no sentido cultural. O Movimento Popular de Cultura, criado no Recife, e os Centros Populares de Cultura da UNE, espalhados pelo Brasil, tiveram intensa produção em várias àreas da cultura. Como se tratava de uma atividade de formação geral, até livros de bolso sobre questões políticas foram editados. Aqui, você encontra na íntegra em pdf o livro O Que São as Ligas Camponesas, de Francisco Julião.

POESIA EM ESTADO SEVERINO– Foi um ainda jovem João Cabral de Melo Neto que publicou, em 1955, “Morte e Vida Severina”. Nascido em 1920, João Cabral já era um poeta consagrado da segunda onda do Modernismo quando compôs esse longo poema inspirado pela poesia popular e pela literatura de cordel para falar sobre a fome e a miséria no Nordeste. O livro tornou-se peça de teatro ainda na década de 1950 e, em 1965, Chico Buarque musicou alguns trechos para uma versão montada em São Paulo. Mais adiante, virou filme e série de TV. Mas tudo começa, mesmo, nos versos de João Cabral que podem ser lidos em pdf aqui.

O NOVO CINEMA – Embora um dos marcos fundamentais do movimento cinematográfico brasileiro conhecido como Cinema Novo seja o filme de Nelson Pereira dos Santos de 1955, “Rio 40 Graus”, são já dos anos do pré-golpe talvez o que sejam as três melhores obras: “Vidas Secas” é de 1963 e de 1964 são “Os Fuzis” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Com uma proposta muito bem resumida pela frase de Glauber Rocha — “uma ideia na cabeça, uma câmera na mão –, os filmes do Cinema Novo rompem com os padrões do cinema hollywoodiano e procuram filmar as contradições do Brasi. Se em “Vidas Secas”, o diretor Nelson Pereira dos Santos optou por adaptar o clássico da literatura brasileira de Graciliano Ramos, Ruy Guerra e Glauber partiram para roteiros originais e uma cinematografia toda, bem, nova e desafiadora.

Os três podem ser assistidos na íntegra no Youtube

Vidas Secas

Os Fuzis

Deus e o Diabo na Terra do Sol

ANOS DOURADOS. PARA QUEM? — No meio da década de 1950, um adolescente que estuda em colégio militar na Tijuca, Rio, se apaixona por uma moça de família conservadora. Com essa sinopse bem simples, os autores de telenovela Gilberto Braga e Leonor Básseres criaram em 1986 uma minissérie que marcou época pela qualidade e pela ousadia temática. O embate dos dois jovens apaixonados, mas cerceados pelos preconceitos, torna-se uma prévia do que seriam os debates sobre costumes nos anos 1960. De quebra, Braga e Básseres também registram as convulsões políticas do período. A minissérie está disponível na Globoplay

RÁDIO DA DÉCADA

Sim, havia a Bossa Nova, como novidade, mas a música brasileira é diversa demais para nos limitarmos a apenas um gênero musical. Nesse período, o samba de morro e de asfalto persisitia, as músicas regionais também e também ia começar uma onda chamada Jovem Guarda.

Clique aqui para ouvir uma playlist com 13 canções desse período.