Em 11 de março de 2020, uma palavra entrou no vocabulário de muitas pessoas: pandemia. Foi nessa data que a OMS decretou que os casos de covid 19, doença provocada por uma mutação do coronavírus, tinha se tornado uma pandemia – ou seja, a doença estava disseminada por vários países e tinha atingido uma dimensão global. 

Pela primeira vez na história contemporânea, a humanidade enfrentava um perigo invisível letal e desconhecido. Pouco se sabia sobre a origem da doença e ainda menos sobre  como cuidar de tantos casos ao mesmo tempo. Cientistas e autoridades sanitárias no mundo todo começaram uma corrida para entender o vírus e, assim, procurar uma vacina. 

No Brasil,  estávamos sob uma dupla ameaça, uma vez que quem governava era Jair Bolsonaro: negacionista da ciência e da vacina, inimigo da saúde pública, insensível às mortes, incapaz de liderar o combate à doença e o apoio à população. Deu no que deu: xxx mortes, cenas de desespero em hospitais, cenas de desespero em hospitais e nas ruas. 

Diante desse cenário tão devastador, surgiram aqui e ali luzes (e vozes) nas noites solitárias e silenciosas, algumas obras de ficção que nos ajudaram a entender o que vivíamos e muito esforço individual e coletivo para processar os diversos lutos.

LIVES: AS VOZES VIVAS

Embora vários artistas brasileiros tenham embarcado nas lives musicais, foi a sambista Teresa Cristina que encarnou de maneira mais dedicada o espírito das lives.  Essa carioca de xx anos, durante a pandemia, entrava dia sim e dia também na casa de quem estivesse por lá. Despretensiosamente, ela ia chamando convidados da música, claro, mas também personalidades da política e de outras artes. Só em  2020, ela conseguiu acumular centenas de horas de lives, homenageou artistas como Zeca Pagodinho, Zé Keti, Arlindo Cruz, Geraldo Pereira, Chico Buarque e teve a visita virtual de pessoas como  Lula, Marcelo Freixo e João Paulo Rodrigues, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Além de encher as noites da pandemia de luz e música, Teresa Cristina discutia política, as questões da pandemia e, ainda, dividia um pouco de sua intimidade e de sua família (a mãe idosa e a filha criança).  Aqui, você conhece um pouco melhor a ‘rainha das lives’

E aqui, no canal de Teresa no Youtube, você encontra… um pouco e tudo sobre ela e sua incessante atividade.

Pelo menos até o começo da vacinação em massa, profissionais de saúde em hospitais e unidades de saúde do SUS levaram adiante uma missão ingrata: salvar o máximo de vidas, amenizar o sofrimento daqueles que chegavam com os sintomas da covid e, ainda, preservar a própria vida. Muitas foram as histórias reais de médicos & médicas, enfermeiros & enfermeiras que se exauriram para dar um alento aos doentes e seus familiares. O documentário  “Na Linha de Frente” sobre profissionais de saúde que responderam à pandemia de Covid-19 chegou a receber o Grande Prêmio Saúde para Todos da Organização Mundial da Saúde, OMS. Está disponível no YouTube.

Foi uma produção brasileira de série médica que trouxe para as pequenas telas toda a angústia daquele período. A já excelente “Sob Pressão”, série ficcional que retrata o cotidiano de uma equipe de médicos do SUS, conseguiu a proeza de fazer, a toque de caixa, o especial “Sob Pressão – Plantão Covid”. Estrelado por Marjorie Estiano e Júlio de Andrade, são apenas dois episódios de uma hora, lançados em outubro de 2020. 

PARA DESCANSAR DAS TELAS

 As telas se tornaram imprescindíveis: para trabalhar, estudar, falar com parentes também isolados, se informar e também se divertir minimamente. Apesar disso, a venda de livros aumentou  entre março de 2020 e março de 2021. Segundo dados do Painel do Varejo de Livro, divulgados pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) o número foi 38,38% maior em número de exemplares e 28,46% maior em faturamento. 

Dentre os mais vendidos de 2020, o romance “Torto Arado”, de Itamar Veira Júnior, se destacou por inúmeras razões. O livro vendeu como pão quente e se tornou um best-seller já no primeiro ano da pandemia (em setembro de 2024, alcançou a marca de 1 milhão de exemplares vendidos). Além disso, o romance de Itamar Vieira Júnior abriu os olhos de muita gente desavisada para existência de uma literatura brasileira feita por pessoas negras que, se não é novidade, esteve muitas vezes invisibilizada. Para conhecer um pouco mais do livro, veja aqui uma entrevista com o autor feita pela escritora Eliana Alves Cruz no programa Trilha das Letras.