Sagrado e profano, musical e dançante, o Carnaval, maior festa popular do Brasil, é também o cruzamento de muitas tradições culturais. A festa de origem cristã trazida pelos portugueses aqui sofreu (e ainda sofre) várias metamorfoses ao longo do tempo.

Só para começar, tornou-se espaço de expressão das religiões de origem africana e incorporou elementos dos rituais indígenas. Tornou-se espaço privilegiado de culturas e religiosidades colocadas à margem e organizou o caos da folia em escolas, blocos, grupos e coletivos que tomam cidades em todo o Brasil no auge do verão.

Momento de criação e de expressão de novos ritmos musicais — como o samba, a marchinha, o frevo, o maracatu, o afoxé, o ijexá, o axé e o arrocha–, o Carnaval também desenvolveu maneiras próprias de dançar na rua, de se fantasiar, de brincar e protestar. Hoje, nas grandes cidades brasileiras, as atividades relacionadas ao Carnaval são também fontes de trabalho e renda para muitas pessoas.

Entender e apreciar o Carnaval como uma das celebrações mais anárquicas, diversas e interessantes do povo brasileiro é também compreender um pouquinho melhor o país em que a gente vive. Nossa carne, como diriam os Novos Baianos na voz de Moraes Moreira na canção “Swing do Campo Grande”, é de Carnaval, nosso coração é igual.

ORIGENS

Você sabia que até 1917, no Carnaval que já tomava ruas e salões de baile do Rio de Janeiro, dançava-se e desfilava-se “ao som de outros gêneros, fossem valsas, choros ou dobrados”? A professora de literatura e pesquisadora Walnice Nogueira Galvão conta, em seu livro “Ao Som do Samba – Uma Leitura do Carnaval Carioca” (editora Fundação Perseu Abramo, 2009) como é que as histórias do samba e do Carnaval se tornam praticamente uma só no Rio de Janeiro.
Você pode ler um trecho aqui.

NA LITERATURA

O “maior espetáculo da Terra” não estaria ausente da crônica, gênero literário que tomou uma feição toda particular no Brasil. Unindo a observação e o comentário de fatos cotidianos ao lirismo e ao humor, a crônica foi praticada por alguns dos maiores escritores brasileiros. Em “Paticumbum, prugurundum”, texto publicado em 1982 no “Jornal do Brasil”, o poeta Carlos Drummond de Andrade comenta o samba-enredo da Império Serrano daquele ano e que se tornou um clássico da música brasileira. Clique aqui para ler a crônica de Drummond.
E aqui você pode ouvir o samba-enredo “Bum Bum Paticumbum Prugurundum”da Império Serrano.

NO CINEMA

Em 1954, o então diplomata e poeta Vinicius de Moraes escreveu uma peça de teatro intitulada “Orfeu da Conceição”. A peça era uma adaptação do mito grego de Orfeu, transposta para uma favela carioca. Foi montada pelo Teatro Experimental do Negro, de Abdias Nascimento em 1956 com um elenco de atores, com cenários de Oscar Niemeyer e trilha sonora de Tom Jobim e Luiz Bonfá, então dois dos principais compositores da bossa nova.

O cineasta Marcel Camus, que se encantou pela música e pela história da adaptação teatral, veio ao Brasil para fazer a versão cinematográfica com atores brasileiros. As cenas finais exibem imagens dos desfiles do Carnaval carioca de 1958. Lançado em 1959, “Orfeu Negro” ganhou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de filme estrangeiro para a França em 1960.

Está disponível no Youtube completo e com legendas.