Por Elton Jhony Silva de Carvalho e Gabriel da conceição Mendes
As juventudes, representadas na história pelos estudantes, tiveram e ainda têm um papel de protagonistas na história do Brasil. Na região norte alguns estados brasileiros têm mais tradição em lutas sociais do que em outros, e aqui, no extremo Norte do país, também lidamos com juventudes que expressam a sua arte de modos diversos.
Por aqui temos as juventudes da periferia, universitária, camponesa e a indígena, que vivem nas comunidades mas realizam intercâmbio cultural com bastante frequência, e essa troca fez e ainda faz com que percebamos nossa pluralidade e convergências que nos impulsionam a não ficar parados.
Nos últimos 4 anos organizamos em Roraima o Levante Popular da Juventude, que tem como horizonte organizar essa juventude diversa e desafiadora. Percebemos que esse intercâmbio de vivências entre os jovens indígenas e não indígenas no movimento gera uma capacidade de se observar no mundo, além de uma grande vontade de expressão. O contato com o outro que acolhe sem preconceitos gera uma gama de sentimentos que só quem viveu a troca de experiência consegue explicar e algumas vezes nem consegue. É com a juventude organizada que potencializamos esses sentimentos, mas não somente sentimos, focamos toda essa energia, que é coletiva, e a partir desse ponto comum nos unimos e nos tornamos mais fortes e engajados politicamente e socialmente.
É possível perceber que o convívio com uma juventude diferente da sua gera todo tipo de emoção, mas quando ela tem uma direção política, o horizonte de todas essas juventudes se torna um só. Mais recentemente essas juventudes se uniram em defesa da democracia.
Em Roraima podemos atuar na realidade concreta dessas diferentes juventudes e podemos falar e fortalecer outros jovens que durante o processo perceberam a importância de defender a vida, souberam enxergar, de acordo com a sua vivência, qual projeto de país defendem e onde atuar nessa sociedade que se tornou tão mais desigual, violenta e dividida. Com todas as nossas limitações, no decorrer desses anos, conseguimos utilizar diversas ferramentas para conquistar os corações e as mentes dessa diversidade de juventudes, fomos às ruas ecoar o #ForaGarimpo e #ForaBolsonaro, colocamos em prática a Rede de Cursinhos Populares Podemos+ e, através dela, colocamos na universidade diversos jovens que agora atuam no movimento de forma voluntária, no cursinho, além de outros espaços formativos.
Estávamos em um jogo perigoso recentemente: por um lado um plano que defendia a morte e por outro o que defendia a vida. A disputa dessa narrativa foi feroz e desigual, no entanto, conseguimos eleger Lula pela terceira vez presidente do Brasil. Mas percebemos que, na verdade, apenas estamos iniciando esse processo de recondução e reconstrução do nosso país, estamos no início da retomada de nossa soberania nacional e, falando territorialmente, na luta da conquista de mais espaços no Estado de Roraima, espaços esses que conquistamos a duras penas, com mobilizações, mesmo estando em um grupo pequeno, com articulações junto aos sindicatos e organizações católicas que sempre estiveram ao nosso lado, sem contar com a ajuda que tivemos do MST, que sempre nos apoiou e incentivou a estar nas ruas e ocupá-las.
Aprendemos com o movimento indígena, com o movimento sem terra e o nosso próprio movimento que as eleições são uma estratégia dentro da guerra que vivemos contra o sistema capitalista. Essa guerra estava dizimando o povo Yanomami e a juventude da capital de Roraima, que esteve durante os últimos 4 anos denunciando as violências que estavam acometendo a terra indígena Yanomami.
A nossa luta em defesa da vida está interligada com todas as juventudes, algumas podem não perceber agora ou passam a vida toda sendo enganadas pelo sistema, mas a juventude organizada no extremo Norte do Brasil tá ecoando seu grito em defesa da democracia e da vida, uma tarefa difícil que exige uma paciência impaciente, é um exercício diário, de autocuidado mas também de energia para enxergar o outro como seu semelhante a quem devemos comprometimento e responsabilidade se quisermos de fato ser uma ferramenta revolucionária diante de todos os ataques que ainda sofremos.
O amanhã da Amazônia é agora, e as juventudes representam o presente, o fardo é muito pesado quando dizem que os jovens são o futuro da nação, nós somos e queremos ser o agora, queremos sonhar e agir a partir deles, aprendendo com as singularidades dos povos indígenas que aqui vivem desde anos imemoriais. Queremos construir um novo modo de viver e enxergar o mundo, sem desigualdades, onde os jovens de fato sejam protagonistas, não só de suas vidas, mas também das políticas públicas que englobam toda a sua existência e resistência.
A participação da juventude junto à política não é uma luta de hoje, sabemos dos nossos desafios e estamos dispostos a continuar fazendo essa tarefa com trabalho e teimosia, sem hesitar em recuar e aprendendo sempre nessa caminhada que traçamos diariamente junto com aqueles que se dispõem a nos apoiar, e principalmente, contra aqueles que ousam nos calar, cercear e silenciar. Somos resistência no estado mais bolsonarista do país, que também é nosso, e lutamos por ele, temos culturas ancestrais, línguas diversas, rios que nos banham, florestas e lavrados que entoam nosso horizonte deixando tudo mais belo, sem contar com os montes e serras que nos agraciam com sua imponência e firmeza. E é sempre com o pensamento de fazer parte de toda essa riqueza que percebemos o quanto se faz necessária a presença da juventude para a manutenção de nossas terras que há tempos vêm sofrendo e sendo desmanteladas.
Nossa esperança é que com o novo governo a retirada dos garimpeiros em terras indígenas demarcadas, a preservação do meio ambiente e as políticas públicas de preservação de nossa cultura sejam realmente levadas a sério, e que nós, a juventude organizada, sejamos protagonistas nesse novo tempo. Sempre estaremos dispostos a enfrentar aqueles que irão de encontro com o que defendemos.
Juventude que ousa lutar constrói poder popular!
Elton Jhony Silva de Carvalho é coordenador nacional do Levante Popular da Juventude em Roraima e estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Roraima.
Gabriel da conceição Mendes é militante do Levante Popular da Juventude e estudante de Psicologia na Universidade Federal de Roraima.