Por Rose Silva
Criado nas ruas do Pelourinho, Ivã Santana Sousa, conhecido como mestre Ivã, teve uma longa trajetória até se tornar conhecido como um dos mais talentosos percussionistas de Salvador. Com dois CDs gravados, já formou pessoas que hoje tocam em grupos famosos como a Timbalada e o Olodum. Mas, para sobreviver, nos velhos tempos, ele já vendeu amendoim, picolés, trabalhou em serviços gerais, como mecânico e garçom.
Foi na Associação Carnavalesca Swing do Pelô que ele se revelou como formador de jovens e mobilizador de público no carnaval. Mestre Ivã se emociona muito ao falar do que passou quando começou a tocar e se orgulha demais ao falar de sua filha, Ivaniria Silva Souza, a mestra Vanna, que hoje é também seu braço direito nas atividades da associação. “Para ter esse trabalho e reconhecimento de hoje fui muito humilhado, diziam que eu era maluco, me chamavam de mendigo porque eu pedia ajuda tocando nas ruas”, lembra ele.
O talento para a música está no DNA da família. Aos 15 anos, mestre Ivã gostava mesmo de praticar bike cross. Mas tudo mudou quando recebeu o convite para tocar de seu tio, mestre Prego, que tinha uma banda de percussão com os dois filhos e já era reconhecido por participar de gravações com dois ícones do axé: Daniela Mercury e É o Tchan.
Em 1985, formou sua primeira banda, com o irmão, Bimba, chamada Frutos do Pelô, até que decidiu pela carreira solo. Em 1988, criou o Swing do Pelô, uma oficina de percussão que já completou 41 anos de resistência. Foi nesta época, morando na rocinha, que fica no Pelourinho, que surgiu a ideia de criar um projeto de percussão com meninos e meninas da comunidade, uma iniciativa muito bem-sucedida que lhe deu bastante visibilidade.
“A oficina deu muito certo, atraiu não só as crianças e jovens do Pelourinho mas de outros bairros também. Hoje dia temos nosso projeto com oficina, aulas de etiquetas, aulas de como montar o instrumento,- fazer baquetas. E aqueles jovens que faziam parte do projeto estão tocando em grandes grupos como a Timbalada, o Olodum e bandas de pagode. Estão em outros países e são muito gratos a meu pai, por que sem ele essas pessoas poderiam até estar na rua”, afirma Vanna.
Hoje com 24 anos, mestra Vanna acompanha a história de seu pai desde que nasceu. “Um dia eu estava indo curtir o carnaval e, ao subir a rua Frei Vicente, onde fica a sede da banda, deparei com mais de 50 percussionista perto dele pra pegar fantasias, instrumentos. E vi que estava lá sozinho pra atender a todos que iam sair no Bloco da Capoeira. Eu ainda não tocava, mas fui pra frente, peguei sua mão e disse: ‘de agora em diante o senhor não estará mais sozinho, vou ser sua fortaleza’”, lembra ela.
“Quando peguei o meu primeiro instrumento, que foi a marcação, parecia que eu já tinha tocado antes. Na verdade eu já tinha um dom, mas não sabia, e fui dando seguimento. Hoje eu sou vice da banda , organizo tudo. Estou aqui para representar as mulheres na percussão”, afirma.
Pai e filha provam que cotidianamente “todo menino do Pelô, sabe tocar tambor”, como diz a música, e nutrem juntos o grande sonho de tocar fora do Brasil. Enquanto isso, expandem seu projeto ensinando também turistas que visitam Salvador em busca de experimentar instrumentos de percussão.
Para conhecer mais o projeto, siga o Swing do Pelô no Instagram: @swing_do_pelo