Campanha mostrou que a força do PT está viva e tem lastro. Mas, pra isso valer, tem de fazer o dever de casa, que é o diálogo com o povo, com as novas narrativas, com os temas que são mais atuais.

Por TIAGO SANTANA

A estrutura partidária ficou muito presa ao governo no passado, e as decisões políticas do PT acabaram afastando o partido da nossa gente, da sua essência, dos trabalhadores. Durante as eleições internas nós já fizemos o debate sobre a necessidade de nos reconectarmos, e nosso primeiro ano de gestão foi isso. Quando chegou o período eleitoral, já tínhamos debate acumulado quando decidimos pela candidatura própria, ajudando o fato de termos Benedita, que já possuía um histórico com este perfil.

A lição que fica das eleições de 2020 é que o que mais importa é a linguagem direta ao falarmos com o povo. Durante a campanha, a Benedita foi essa candidata, que falou ao povo de modo direto. Rodamos em todas as favelas, e, mesmo em lugares controlados pelo poder paralelo, ela era respeitada e conseguia acesso, pois tem o reconhecimento do povo. A campanha mostrou que a força do PT está viva e tem lastro, mas, pra isso valer, tem de fazer o dever de casa, dialogar com o povo, com as novas narrativas, com os temas que são o atuais e não os da bolha do partido.

O Rio sempre foi uma vitrine para o Brasil, mas nós, do PT, estávamos perdendo a condição de apostar na diversidade no sentido de oferecer à sociedade nomes, segmentos, temáticas que se organizam na sociedade. Nessa esteira, Thainá de Paula surge como uma ótima alternativa, muito próxima do perfil de Benedita da Silva. Ela dialoga com a juventude, com mulheres, com negros, não adianta dizer que é só a classe trabalhadora por que não é, tem muita coisa dentro disso. E nós fizemos isso na chapa de vereadores, uma chapa diversificada, cumprimos todas as cotas, negros, brancos, jovens, LGBTs, fazedores de cultura, o que mostrou que isso tem lastro e tem rendimento, pois aumentamos a bancada, o voto em legenda. A Benedita ficou à frente do PSOL e conseguimos falar pra dentro e falar pra fora, que era o nosso grande desafio.

O desafio que eu não esperava e que, mesmo em meio a tantos retrocessos, me surpreendeu foi a necessidade de se fazer o debate sobre as chamadas “pautas identitárias”, cujo problema começa no nome. Trata-se da vida das pessoas, o que elas são na realidade e como a vida delas é vivida.

Trata-se de ouvir mais as pessoas, pois há muita necessidade de contribuição da sociedade. Tivemos que fazer uma campanha falando pros pobres, pras favelas e também pra incluir estas pessoas numa agenda política coletiva, de governo, de sociedade. Precisar explicar isso pra algumas pessoas dentro do PT me surpreendeu. Sem incluir essas pautas não vamos derrotar o fascismo e o conservadorismo.

Tarefas até 2022

É preciso ampliar o diálogo e a interação com o povo, sabendo de todas as limitações que a pandemia impõe. O PT precisa ter consciência de sua força, presença e representatividade. Mas isso não basta, é necessário ampliar. Só os setoriais não bastam, é preciso dialogar e organizar. Pra isso, será preciso transitar, trocar informações, e a esquerda toda precisa fazer tudo isso, na prática. Por exemplo, pros segmentos religiosos, ser de esquerda e ser socialista é repartir, é compartilhar, é acolher. Não podemos aceitar rótulos, como se nós fossemos os detratores de costumes. Enquanto esquerda temos de mostrar um projeto em que toda a sociedade esteja incluída. E a juventude tem um papel estratégico nisso, pra mostrar que a esquerda tem presente e também tem futuro, que o movimento é pra 2022, mas precisa ter mais continuidade em médio e longo prazo.