A Revista Reconexão Periferias de dezembro traz o tema dos direitos humanos.  A pandemia de Covid-19 fez mais de 1,5 milhão de mortos em todo o mundo e cerca de 180 mil vítimas no Brasil. Países nos quais os governos agiram rápido conseguiram proteger um pouco mais sua população, o que não foi o caso do Brasil, onde a situação só não foi ainda mais dramática pela existência do Sistema Único de Saúde (SUS), mas, mesmo assim deixou nítidas as diferenças entre ricos e pobres no acesso à saúde.

Durante esse período de pandemia também tivemos outras pautas compartilhadas com boa parte do mundo: a violência policial contra negros e negras, emergindo em luta após o covarde assassinato de Geoge Floyd, nos Estados Unidos. No Brasil, seguimos lutando contra o genocídio da juventude negra e também pelo direito a uma vida sem violência (sexual, física, psicológica) para meninas e mulheres.

Todos esses temas, são exemplos de direitos humanos, que deveriam ser universais, somando-se a ainda outros, como o direito à moradia, a um trabalho digno, direito de votar e ser votado, direito à educação e de usufruir da cultura, direito de acesso à justiça e de não sofrer nenhum tipo de preconceito em virtude de cor, raça, gênero, religião ou opinião política.

Direitos esses sistematicamente negados para a população brasileira, especialmente nas periferias. Nos territórios longe dos grandes centros urbanos a ausência de direitos básicos se faz ainda mais presente. Para dar visibilidade a este tema, movimentos sociais utilizam o dia 10 de dezembro como o Dia Internacional dos Direitos Humanos, data em que a Assembleia Geral das Nações Unidas oficializou a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Nós, do Reconexão Periferias, compreendemos que a luta pelos Direitos Humanos nos territórios de comunidades, favelas e periferias do Brasil se faz urgente e ainda mais necessária diante de um governo que, além de não garantir direitos básicos a sua população, constrói uma narrativa que busca deslegitimar e criminalizar quem luta por igualdade, por justiça, por condições dignas de vida para todos e todas.

O governo Bolsonaro apresenta como projeto para o país a sistemática tentativa de retirada de direitos, mas não de todas as pessoas, e sim dos mais pobres, das mulheres, da população negra, quilombola, índigena e LGBTQI+. Nos somamos aos movimentos que resistem a este governo e que buscam abrir novos caminhos para voltarmos a celebrar vitórias.

Questionando as atuais possibilidades de vitórias eleitorais nas periferias, apresentamos o artigo de Huri Paz, que afirma que a expansão das milícias no Rio de Janeiro coloca em xeque a política institucional como forma de mudanças das realidades das periferias.

O perfil traz Milton Barbosa, histórico militante da luta antirracista e um dos fundadores do Movimento Negro unificado, em uma conversa com Isaías Dalle que lembra passagens da sua vida e da luta.

Na seção entrevista, a jurista, escritora e militante de direitos humanos Allyne Andrade e Silva, jovem doutora em Direito, superintendente adjunta do Fundo Brasil e autora do livro “Direitos e Políticas Públicas Quilombolas” (Editora D’Plácido, 2020), repensa o que se condera ser uma pessoa, um ser humano. E também propõe refletir sobre quais brasileiros e brasileiras são tratados como tal, quem é autorizado a desfrutar desse status. A partir dessa reflexão, é possível começar a pensar em direitos humanos, o que significam, como defendê-los.

Alexandre Lima escreve sobre o nascimento do Movimento Negro Unificado, MNU, ocorrido durante o período da Ditadura Militar, o que desde lá, relaciona a luta da população negra com a luta por direitos humanos para todos e todas.

E é este o nosso desejo para o ano de 2021, que logo se inicia: que possamos garantir direitos humanos básicos a todos e todas, seria uma enorme conquista!