A edição de março da Revista Reconexão Periferias traz como pauta principal a luta das mulheres no contexto da pandemia. No mês em que celebramos o Dia Internacional das Mulheres, tratar deste tema nos permite dar visibilidade ao movimento histórico de mulheres em busca da igualdade entre homens e mulheres, pelo fim do racismo e de toda forma de exploração.

A luta por uma vida digna, livre de violência, com direitos garantidos, autonomia econômica e política é antiga e cotidiana para a maioria das mulheres em todo o mundo. Contudo, o momento pelo qual estamos passando, de epidemia por Covid-19, combinado com o absoluto descaso com a vida das pessoas por parte do governo federal, torna a sobrevivência das mulheres ainda mais difícil.

Pesquisa realizada pela organização Gênero e Número, em parceira com a Sempre Viva Organização Feminista (SOF), mostra que as condições de trabalho durante a pandemia sobrecarregaram principalmente as mulheres. Metade das brasileiras passou a cuidar de alguém durante esse período (idosos, crianças ou doentes), e 41% das mulheres com emprego afirmam estar trabalhando mais do que antes.

O estudo indica ainda que a realidade não é a mesma para todas. Nos ambientes rurais, 62% das mulheres afirmaram que passaram a exercer uma tarefa de cuidado. E a maior parcela das mulheres que seguiu trabalhando com manutenção dos salários é de brancas. As que estão sem renda ou que tiveram prejuízo na renda são na maioria negras e representam 39% do total. E 58% das mulheres desempregadas são negras. Além do campo do trabalho e renda, a pandemia intensificou as desigualdades enfrentadas pelas mulheres no que diz respeito às múltiplas violências às quais elas estão submetidas. A violência física, sexual e psicológica foi intensificada na medida em que muitas mulheres passaram a conviver mais horas sob o mesmo teto de seus agressores.

A realidade encontrada pelas mulheres privadas de liberdade, egressas do sistema ou com familiares afetados pelo sistema de justiça criminal durante a pandemia também foi ainda mais desafiadora do que o comum, e sobre ela trata o artigo das ativistas da associação Elas Existem Caroline Bispo e Sandra Cruz.

Esta edição traz também um artigo de Maria José de Souza Silva, Aline Maria da Silva e Angela Maria dos Santos Schepp, que, a partir da história da mulher negra em Mirandiba (PE), refletem sobre educação popular e afirmam a necessidade de pensar a pandemia considerando que todo este contexto agravou a situação das mulheres negras, uma vez que esta desigualdade é histórica, calcada no machismo e no racismo estrutural.

Na Entrevista do mês, Iêda Leal de Suza, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), fala sobre a luta das mulheres negras e a diferença entre representação e representatividade de pessoas negras em espaços de poder e de visibilidade.

A seção Quando novos atores entram em cena traz a primeira vereadora negra da história da capital do Paraná, Ana Carolina Dartora, que é feminista negra, historiadora, especializada em ensino de Filosofia e mestra em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O Perfil desta edição fala da ONG Mulheres da Luz, coletivo que busca promover a cidadania e a garantia de direitos humanos das mulheres em situação de prostituição do Parque da Luz e entornos. Desde 2013, realiza atividades relacionadas às áreas de educação e cultura, além da promoção de saúde e bem-estar social.

A sessão de Arte traz o projeto Samba das pretas que, mais do que apenas música, é uma tática de resistência e de denúncia da invisibilidade da mulher dentro do universo do samba. E ainda a poesia de Arquimedes da Silva Machado, um dos fundadores do Sarau Itinerante, uma provocação poética de quase 10 anos, que inclui, além de poesia, música, folia de reis, capoeira, jongo e terapia das palavras, do desabafo, da escrita e das intervenções.

A edição de março fecha quando foi batida a marca de mais de 270 mil mortos pela Covid-19, com mais de dois mil por dia, mais de treze milhões de desempregados, em sua grande maioria mulheres, e com mais de dez milhões de brasileiras/os que passam fome.

Somos solidárias/os às dores de todas as famílias que perderam entes queridos e também às famílias que estão em estado crítico de sobrevivência, passando fome e com outras privações decorrentes da situação econômica que estamos atravessando.

Para esse momento em que é necessária tanta resistência e luta, ficamos com o chamamento de nossa entrevistada Iêda Leal “Temos que nos manter vivas, unidas e organizadas.” Boa leitura! Boas lutas!